Por Rennan Setti
Após trocar de comando pela segunda vez em cinco meses e enquanto é palco de batalha judicial entre acionistas, a Gafisa quer apostar no que vem dando certo. A nova CEO, Sheyla Resende, decidiu que o segmento de luxo será o foco único e exclusivo da construtora daqui para frente, depois de uma história de quase sete décadas em que a Gafisa ergueu prédios para todos os matizes das classes média e alta.
A nova estratégia é resultado de uma virada de chave iniciada no Rio, com o lançamento de um residencial no terreno onde estava a última casa da orla do Leblon, há um ano emeio. Apenas uma das seis unidades ainda não foi vendida, e a cobertura saiu por R$ 42 milhões —metro quadrado mais caro já comercializado no Rio.
— O TOM Delfim Moreira foi uma validação. O alto padrão é um segmento menos afetado pela conjuntura, e a pandemia trouxe crescimento explosivo de produtos de luxo. Os próximos lançamentos serão todos nessa categoria, estamos saindo do médio-alto padrão — conta Sheyla, engenheira civil com 14 anos de Gafisa que assumiu o cargo de CEO no fim de janeiro.
Para se adaptar à nova estratégia, a Gafisa criou uma área de “jornada do cliente” com a ajuda da consultoria MCF Consultoria, de Carlos Ferreirinha, especializada no segmento de luxo. O objetivo é moldar seus processos ao gosto de clientes endinheirados, da atração do comprador ao pós-venda.
A demografia desse público é, de fato, específica. No Rio, cerca de um terço dos imóveis de alto padrão da Gafisa já é comprado por estrangeiros, e vem crescendo a demanda vinda de novas fortunas do Centro-Oeste, por exemplo.
Terrenos suficientes
O land bank de terrenos que a Gafisa já possui em Rio, em Zona Sul e Barra, e em São Paulo, em bairros como Jardins e Itaim, é suficiente para que a companhia “faça essa transição com tranquilidade”, diz Luis Ortiz, vice-presidente de negócios. A construtora também absorveu projetos da Bait, que já operava no nicho de luxo da Zona Sul do Rio.
— Mas, hoje em dia, esse público não exige apenas localização. Então nosso foco também será em máxima customização e acabamento — acrescenta.
Em paralelo, os executivos estão nos trâmites finais para decidir o que será feito do Fashion Mall, comprado há mais de dois ano. A criação de um residencial de luxo associado ao shopping ainda é uma das alternativas na mesa.
A chegada de Sheyla ao comando se dá após uma sequência de anos conturbados. O capítulo mais recente é a disputa travada entre a gestora ativista Esh, de Vladimir Timerman, e o acionista que dá as cartas, Nelson Tanure,. A Esh argumenta que Tanure tem participação maior que a declarada na construtora por meio de outros fundos, o que ele nega. No último round, em meados de fevereiro, Tanure saiu vitorioso: uma assembleia rejeitou o pedido da Esh para seus direitos políticos na empresa fossem suspensos.
Mas Renata Yamada, vice-presidente de gestão e jurídico, sustenta que “a situação com a Esh não interfere no operacional” da Gafisa.