Em um clima de disputa societária, a Gafisa realizará nesta terça-feira (25), às 10h30, a assembleia geral de acionistas para deliberar sobre a destituição do conselho de administração e a eleição de novos membros, uma etapa essencial para definir os rumos da incorporadora.
A assembleia ocorrerá a pedido do seu maior acionista, a gestora de recursos GWI Group, do investidor Mu Hak You. Segundo apurou o Broadcast, ele está insatisfeito com a governança corporativa e os resultados apresentados pela companhia. Agora, a GWI planeja eleger sete dos sete membros do conselho de administração. Atualmente, a gestora detém apenas dois assentos.
A votação na assembleia ocorrerá pelo sistema de voto múltiplo, em que os acionistas poderão votar em cada um dos candidatos ao conselho em vez de direcionar voto único nas chapas. De um lado da disputa estão os atuais conselheiros, e do outro, nomes de confiança da gestora.
Até aqui, porém, a renovação do colegiado vem enfrentando contestações. As consultorias de governança corporativa Glass Lewis e Institucional Shareholder Services (ISS), que assessoram investidores em tomadas de decisões, recomendaram aos acionistas que votem contra a proposta de destituição do conselho. As consultorias argumentaram que a GWI não apresentou razões para substituição do grupo.
A própria direção da Gafisa publicou recentemente um informe publicitário nos jornais criticando a iniciativa da GWI e defendendo as melhorias operacionais e financeiras apresentadas pela incorporadora nos últimos trimestres - como redução dos distratos, aumento da receita, corte de despesas e reestruturação de dívidas.
"Convocamos os acionistas a votarem contra a destituição de seu conselho de administração, permitindo a este que não seja interrompido, por motivos não declarados e na busca de benefícios egoístas, o esforço de valorização da companhia", comunicou a administração.
A atitude dos administradores foi alvo de um processo aberto neste mês na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela GWI. "Eles não têm direito de utilizar recursos da companhia para pedir votos. Os administradores estão usando recursos dos acionistas para se manter nos seus cargos", contestou o advogado que representa a GWI no processo, André Almeida, sócio do escritório Almeida Advogados.
Almeida também obteve uma liminar junto à 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial de São Paulo impedindo o atual presidente do conselho de administração da Gafisa, Odair Senra, de presidir a assembleia desta terça-feira, a título de se evitar possíveis conflitos de interesse.
Em outra frente para reforçar seu poder decisório, a GWI comprou mais ações da incorporadora na semana passada e ampliou sua participação de 30,3% para 37,3%. No fim do ano passado, essa fatia era inferior a 5,0%.
Caso assuma o controle da Gafisa, a incorporadora pode ser levada a uma mudança nos rumos, segundo apurou o Broadcast. Entre as medidas estudadas pela GWI estão a troca da diretoria, mudança de sede e aprofundamento dos cortes de despesas visando à maximização do retorno aos acionistas.
Há dúvidas no mercado se a iniciativa da GWI pode, de fato, extrair valor imediatamente, uma vez que o setor de construção civil é conhecido pelos resultados a longo prazo. A analista do BB Investimentos, Georgia Jorge, afirmou em um relatório recente ver o movimento com cautela.
"Ao nosso ver, o conselho executivo da Gafisa vem tomando medidas para criar valor para a empresa pela retomada de lançamentos comprovadamente adequados e que contribuirão para a melhoria das margens e sua gradual desalavancagem", afirmou Georgia. Segundo ela, a mudança no conselho pode alterar o plano de ação que está sendo colocado em prática e causar impactos negativos nas operações", ponderou.