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27/09/2019

Gafisa reestrutura as finanças e novos projetos só em 2020

A retomada de lançamentos está prevista para 2020

A Gafisa vai direcionar esforços, nestes últimos meses do ano, para tentar concluir a reestruturação financeira - a segunda etapa do aumento de capital da companhia está em fase de conclusão, e foi anunciada emissão de certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) de R$ 150 milhões - e dar o máximo andamento possível às obras em curso dos empreendimentos para poder repassar os recebíveis dos clientes para os bancos. No momento, a companhia busca sucessor para Roberto Portella, que deixou a presidência há uma semana. A retomada de lançamentos está prevista para 2020.

Procurada, a Gafisa preferiu não se manifestar. Segundo fonte próxima, a intenção da companhia é voltar a apresentar projetos a partir de janeiro, quando espera ter “mais saúde financeira”. Conforme a fonte, a posição de caixa estimada para o encerramento do ano é de R$ 500 milhões (em 30 de junho, o caixa era de R$ 183 milhões). Ela avalia que os R$ 180 milhões projetados, somando a captação dos CRIs e o plano de venda de R$ 30 milhões em imóveis de projetos em construção, serão suficientes para concluir as obras.

A homologação da segunda tranche do aumento de capital - cujo total pode chegar a R$ 273 milhões - está prevista para o fim de outubro, quando os recursos serão direcionados para empreendimentos, além do pagamento de dívidas. De acordo com fonte de mercado, as mudanças recentes na companhia não têm interferido na capitalização em curso. Até segunda-feira, a subscrição de ações no segundo aumento de capital da Gafisa chegava a R$ 205 milhões, o correspondente a 75% do teto de R$ 273 milhões. Mais de 2.000 acionistas exerceram o direito de preferência.

Na primeira etapa do aumento de capital foram levantados R$ 132,6 milhões pela empresa.

No fim de junho, a Gafisa tinha dívida bruta de R$ 771 milhões, - 34,6% do total com vencimento até dezembro e 43,7% com prazo até 2020. A companhia encerrou o primeiro semestre com dívida líquida sobre patrimônio líquido de 102,2%.

Fontes próximas à companhia defendem que o total a ser obtido pelas contas a receber e pela venda de apartamentos é suficiente para fazer frente aos passivos, mas há preocupação, no mercado, em relação ao descasamento dos prazos entre a entrada desses recursos e o pagamento das dívidas de curto prazo e os desembolsos decorrentes de contenciosos, considerando-se que a companhia não está apresentando projetos.

Sem lançamentos, a Gafisa viu suas vendas brutas caírem 74,4%, no primeiro semestre, para R$ 179,2 milhões. Chegou-se a cogitar a antecipação da retomada dos novos projetos para este ano, mas ideia foi abandonada.

Conhecida, principalmente, pela atuação em empreendimentos para as rendas média e alta, a Gafisa vai definir, em outubro, seu plano estratégico para 2020, segundo fonte. No fim do mês passado, a companhia aprovou a constituição de três subsidiárias - uma com atuação no mercado português, uma de gestão de fundos imobiliários e outra para desenvolvimento urbano - e informou autorização do conselho para a diretoria dar continuidade a análises preliminares de empreendimentos situados em Osasco (SP), Campo Grande (MS) e nos municípios fluminenses de Arraial do Cabo, Cabo Frio e Ilha Grande.

A Gafisa está avaliando profissionais do mercado e do seu quadro para definir quem será o presidente na nova fase. O novo nome precisará atender às expectativas do investidor Nelson Tanure, que participa do capital da companhia, principalmente, como cotista de fundos da Planner Redwood Asset Management. Tanure também tem uma pequena participação direta. Segundo o site da Gafisa, a Planner Redwood tem fatia de 27,47% da companhia.

Embora, formalmente, seja membro do conselho e não tenha função executiva na Gafisa, Tanure é considerado o presidente “de fato” da companhia, definindo as diretrizes a serem seguidas, de acordo com fonte que acompanhou as mudanças recentes. Essa foi uma das razões para que Portella antecipasse sua saída. Em 20 de agosto, o executivo havia apresentado a Tanure carta de renúncia, mas o investidor pediu que ele ficasse à frente da Gafisa até o fim de dezembro.

Segundo a fonte, a gota d’água para a antecipação da saída de Portella teria sido a convocação de reunião por Tanure, poucos dias depois de receber a carta de renúncia, em que o investidor informou aos presentes - cerca de 30 pessoas, entre diretores, gerentes e encarregados de obras - que o então presidente deixaria o cargo até o fim do ano. Na ocasião, Tanure disse que esperava que o sucessor ao cargo estivesse entre eles e, a partir daí, o ambiente de trabalho se deteriorou no alto escalão, segundo a fonte, com aumento da competitividade entre os executivos.

No comunicado ao mercado, divulgado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no último dia 20, a Gafisa informou que, concluída a primeira fase da reestruturação da companhia, Portella renunciou ao cargo de diretor presidente e de relações com investidores. Na segunda-feira, André Ackermann, que já estava à frente da diretoria financeira, foi eleito diretor de relações com investidores.

Procurados pela reportagem, Tanure e Portella não concederam entrevista.

Desde a saída do executivo, as ações da companhia se desvalorizaram 7,38%. Ontem, os papéis fecharam a R$ 6,02, com baixa de 0,17%. No ano, a queda acumulada é de 60,36%.

Portella foi eleito presidente da Gafisa em 15 de abril, em substituição a Ana Recart, que renunciou ao cargo em 27 de março. Ana havia sido escolhida para o cargo pela gestora GWI, do investidor Mu Hak You. No ano passado, a GWI foi elevando, gradativamente, sua participação na Gafisa, até que, no fim de setembro, assumiu a companhia.

À frente da incorporadora que já foi uma das maiores e mais relevantes do setor, a gestão da GWI anunciou medidas consideradas polêmicas como a demissão, no mesmo dia em que assumiu, de boa parte da diretoria. Outros cortes foram anunciados, posteriormente, com redução de 59% do quadro de funcionários. Contratos com fornecedores foram renegociados e obras suspensas.

FONTE: VALOR ECONôMICO