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11/02/2016

Governo desiste de taxar letras de crédito

De acordo com fontes da equipe econômica, os títulos têm se mostrado importantes na captação dos bancos para esses setores, especialmente num momento em que o os depósitos à vista e de poupança, fontes de financiamento para agricultura e construção civil, perdem tração.

Leandra Peres

O governo vai rediscutir a cobrança de imposto de renda sobre as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e deve manter a isenção atual. De acordo com fontes da equipe econômica, os títulos têm se mostrado importantes na captação dos bancos para esses setores, especialmente num momento em que o os depósitos à vista e de poupança, fontes de financiamento para agricultura e construção civil, perdem tração.

"No momento, esses títulos são a única forma de aumentar recursos para agricultura e o setor imobiliário", afirma uma autoridade federal.

Em dezembro, o então ministro da Fazenda Joaquim Levy negociou um pacote de mudanças na tributação dos instrumentos de renda fixa e variável, que incluía as LCAs e LCIs. As propostas chegaram a fazer parte do relatório da MP 694, inicialmente editada com a elevação do tributo sobre o pagamento de juros sobre capital próprio, e preparado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), mas não foram votadas. Na nova versão do texto, apresentada na semana passada por Jucá, o relator deixou de fora todas as alterações relativas ao setor financeiro.

A intenção da equipe econômica é tratar do assunto mais à frente. O mais provável, de acordo com a fonte ouvida pelo Valor, é que sejam mantidas as mudanças feitas na tributação dos fundos de renda fixa e variável já que essas propostas estão em estudo no governo há bastante tempo e refletem um certo consenso, especialmente sobre a necessidade de alongamento de prazos. O recuo deve se restringir às letras do agronegócio e do setor imobiliário.

Na pauta do governo, seria necessário definir primeiro o contingenciamento do Orçamento de 2016, enviar ao Congresso a proposta de reforma do PIS/Cofins que está sendo finalizada, garantir uma proposta para a Previdência e iniciar a renegociação das dívidas estaduais antes de trabalhar nas mudanças da tributação do setor financeiro. O governo não descarta, inclusive, retomar a discussão do IR sobre o lucro presumido.

Mas como o início dessa cobrança só ocorreria em 2017, a avaliação da Fazenda é que a pauta pode ser retomada no segundo semestre. O governo entende que haverá uma janela curta mas viável para votações no Congresso após as eleições municipais.

As contratações de crédito rural via emissões de LCA já passaram de R$ 60 milhões nos sete primeiros meses da safra agrícola 2014/15 (entre julho de 2014 e janeiro de 2015) para R$ 1,6 bilhão na atual safra 2015/16, considerando o mesmo período.

O governo já havia feito ajustes nas regras de emissão dos títulos. Em maio, o prazo de resgate para as LCIs subiu de 60 para 90 dias, e as LCAs, que não tinham prazo mínimo, só têm isenção se o resgate ocorrer também após 90 dias. Além disso, carimbou a aplicação dos recursos captados pelas LCAs, que só podem ser usados no financiamento rural. A partir de julho, 100% das captações devem ser destinadas ao setor.

O novo relatório da MP 694 também deixou de fora a cobrança de IR sobre Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), Letras Imobiliárias Garantidas (LIG) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), e aplicações indexadas ao CDI ou à Selic. 

 

FONTE: VALOR ECONôMICO