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14/06/2021

Governo quer oferecer crédito imobiliário subsidiado para policiais e bombeiros por meio da Caixa

A ação é mais um gesto de agrado do governo Bolsonaro às forças de segurança pública e deve permitir a oferta de juros menores ou o financiamento sem entrada para 100% do valor do imóvel

Em mais um gesto de agrado do governo Bolsonaro às forças de segurança pública, a Caixa Econômica Federal deve financiar 100% do valor de imóveis para policiais e bombeiros em um programa de crédito imobiliário em gestação pelo governo, apurou o Estadão/Broadcast. A ação contará com subsídio do Ministério da Justiça, que permite a oferta de juros menores ou sem entrada. Outras pastas também estariam no debate para viabilizar linhas com a mesma estrutura financeira, de acordo com fontes, que concordaram em falar na condição de anonimato.

 

A expectativa é que o anúncio da linha feita sob medida para policiais e bombeiros ocorra nas próximas semanas. Neste momento, o Ministério da Justiça conversa com o da Economia, chefiada por Paulo Guedes, sobre a estrutura financeira da operação. A Caixa, que responderá pela oferta do crédito, já estaria pronta para lançar a nova linha.

 

A proposta de financiamento diferenciado para as forças policiais é mais uma medida do governo para agradar a categoria que é uma das bases de apoio eleitoral do presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, por exemplo, os membros das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros ficaram de fora da Reforma da Previdência aprovada pelo Congresso, e foram beneficiados com regras mais vantajosas para a aposentadoria, entre elas a possibilidade de receber salário integral e poder se aposentar sem a exigência de uma idade mínima, além de pagar uma alíquota de contribuição menor (10,5%) ao INSS do que o teto da iniciativa privada (11,68%).

 

O presidente Bolsonaro também costuma comparecer com frequência à formatura de novas turmas de policiais e militares.

 

O aceno às forças policiais é questionado por cientistas políticos e analistas, que veem nessas ações uma maneira de o presidente estabelecer contato direto com a base das forças armadas e das polícias, de modo a garantir apoio contra as pressões políticas.

 

A ideia é utilizar recursos já administrados pelos ministérios do governo Bolsonaro como garantia para as operações de financiamento imobiliário, possibilitando, assim, a oferta de crédito a juros menores ou sem entrada. A pasta da Justiça teria sido a mais ágil. Assim, deve estrear a nova modalidade em mais uma ação do governo em prol dos agentes de segurança, uma de suas principais bases de apoio.

 

"Se algum ministério realizar o subsídio, o banco consegue reduzir os juros ou a entrada", diz um interlocutor. A princípio, a ação é voltada para bombeiros e policiais, mas outras categorias estão em estudo.

 

Do lado da Caixa, o programa deve ampliar uma nova estratégia do banco público de lançar linhas que financiam 100% do valor do imóvel. Pelas regras do Banco Central (BC), o limite das instituições financeiras é de até 90%. A garantia a ser dada pelos ministérios, porém, viabilizaria a oferta da linha subsidiada, com o benefício de não exigir o pagamento de entrada pelos mutuários.

 

Nesta semana, a Caixa anunciou a primeira iniciativa nesta direção. O banco público vai financiar 100% dos imóveis retomados por inadimplência. Até então, eram vendidos nos tradicionais leilões. Como esses imóveis já foram financiados pela Caixa, mas retomados por falta de pagamento, estão contabilizados no balanço do banco em valor inferior ao real do bem, o que permite o financiamento de 100%.

 

Além disso, nos leilões, os imóveis são vendidos a um preço cerca de 60% de seu valor real, deixando na mesa os outros 40%. Ou seja, com o financiamento de 100%, a expectativa da Caixa é dar mais eficiência à desova dos ativos retomados.

 

Com um estoque de 23 mil imóveis em mãos, o primeiro teste da Caixa vai ocorrer no primeiro Feirão Digital da Casa Própria, previsto para o fim do mês. Serão oferecidos 180 mil imóveis, dos quais 6 mil pertencentes à Caixa e foram retomados por inadimplência pelo banco público.

 

Nessa primeira ação, que visa a financiar 100% do valor do imóvel, os financiamentos utilizaram como fonte de recursos a poupança (SBPE). O custo será de taxa referencial (TR) mais 2,50% e remuneração da poupança, e ainda carência de seis meses.

 

No anúncio do evento, que acontecerá entre os dias 25 de junho e 4 de julho, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, prometeu o lançamento de novas linhas com financiamento de 100% do valor do imóvel. "Em breve, teremos outras iniciativas na mesma linha. Temos mais operações, nas quais a Caixa vai financiar 100% do imóvel e isso é uma novidade", disse o executivo, sem dar mais detalhes.

 

Procurada, a Caixa não comentou.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO