Mais uma fabricante brasileira de cimento e concreto do país está passando ao controle de um grupo estrangeiro. Desta vez é a Cimento do Planalto (Ciplan), que está em fase final de venda para o grupo francês Vicat. A empresa está entre as dez maiores do país e pertence à família Atalla, cujo presidente do conselho, Jorge Rudney Atalla, faleceu no início de junho aos 87 anos.Há duas semanas, o controlador da Cimento Brennand, Ricardo Brennand, vendeu 50% da empresa para a italiana Buzzi Unicem por R$ 700 milhões. Pelo acordo, a totalidade do capital pode ser adquirida entre 2023 e 2026, com pagamento adicional de US$ 250 milhões. A Brennand tem duas fábricas e o negócio marcou a entrada dos italianos no mercado nacional.
As negociações para compra da Ciplan, que tem fábrica em Sobradinho, no Distrito Federal, começaram neste ano. Em junho, foi iniciada a "due diligence" (auditoria financeira e operacional) do ativo. Já há executivos do grupo francês presentes no dia a dia da cimenteira. A Vicat deve assumir o comando da empresa até novembro, conforme apurou o Valor com fontes do setor.
O grupo Vicat, fundado há 165 anos, e que está na sétima geração da família Vicat, tem receita anual de € 2,6 bilhões. Listada na Bolsa de Paris, tem capacidade de produção de 30 milhões de toneladas de cimento ao ano. Está presente em 11 países, onde produziu e vendeu quase 23 milhões de toneladas de cimento em 2017.
A entrada do grupo francês no Brasil, apesar da economia fraca, é mais um passo na estratégia de desenvolvimento internacional da Vicat, sobretudo em países emergentes. A internacionalização da companhia ganhou fôlego a partir dos anos 90 e estava parada desde 2008, quando foi iniciada a operação na Índia e na Mauritânia (África Ocidental).
A Ciplan foi fundada em 1968, pela família Atalla, que adquiriu uma pequena fabricante de cimento montada para atender às obras de construção de Brasília. O grupo também é dono de uma usina de açúcar e álcool, a Central do Paraná, de Porecatu (PR) e de empreendimentos imobiliários.
Três dos quatro ramos da família são os atuais acionistas da cimenteira. O mais novo dos irmãos não faz parte do capital, de acordo com informações. Desde dezembro do ano passado, a empresa é comandada pelo executivo Sérgio Bautz, que era diretor industrial da empresa e teve passagens por Holcim e Votorantim.
A Ciplan, como outras cimenteiras do país, vem sofrendo financeiramente com a crise econômica do país, a qual afetou o setor devido ao forte recuo da demanda de cimento na construções de imóveis e em obras de infraestrutura. Com isso, o consumo caiu 26% de 2015 a 2017. E a projeção para este ano é de novo decréscimo, entre 1% e 2%, consolidando quatro anos seguidos de retração na indústria cimenteira.
A empresa tem elevada alavancagem financeira: fechou 2017, conforme seu balanço, com endividamento líquido de R$ 655 milhões. Considerando um resultado operacional (Ebitda) de R$ 72,33 milhões no ano, a relação da dívida líquida sobre Ebitda era de 9,02 vezes.
A Ciplan viu também sua receita líquida cair de R$ 624 milhões em 2016 para R$ 525 milhões no ano passado - menos 16%. O lucro líquido de R$ 40,2 milhões em 2016 virou prejuízo de R$ 69,78 milhões no ano passado.
A Ciplan tem capacidade de produção de 3 milhões de toneladas de cimento ao ano, tendo produzido em torno de 2 milhões de toneladas em 2017 - queda de 29% em relação ao volume de 2014, quando foi o auge de consumo no país. Está presença, com venda de concreto, em Minas Gerais, Tocantins, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. (Com Daniela Fernandes, de Paris)