O Grupo Lar, de origem espanhola, está mantendo seu plano de começar a incorporar empreendimentos residenciais dos padrões médio e médio-alto, na cidade de São Paulo, a partir de 2020, mas decidiu, em função da pandemia de covid-19, postergar para o próximo ano parte dos lançamentos previstos. Além de deixar para 2021 a meta de ser uma incorporadora que apresenta, anualmente, Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões, a empresa tem revisado projetos para se adequar às novas necessidades do consumidor que vieram à tona com o isolamento social.
Antes da crise, a intenção era dar início, neste mês, aos lançamentos no maior mercado imobiliário do país. Com a revisão da estratégia, um projeto será apresentado em outubro e outro, em novembro, chegando ao total de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões.
Segundo o presidente do Grupo Lar Brasil, Guilherme Carlini, os controladores espanhóis apostam na estratégia de diversificação e acreditam que o crescimento do segmento residencial ocorrerá a partir dos mercados emergentes. O grupo está presente também na Polônia, no México e no Peru. “Nos piores anos da última crise do Brasil, foram lançadas e vendidas 25 mil unidades na cidade de São Paulo. Isso é mais do que é feito em um ano bom em Madri, Varsóvia e na Cidade do México”, compara.
De acordo com Carlini, há constante troca de informações entre todas as operações do Grupo Lar e não somente com a matriz. A intenção é que e esse intercâmbio cultural e a diversidade do grupo estejam representado nos empreendimentos e que os produtos desenvolvidos sejam “viáveis para qualquer capital do mundo”. É necessário que as unidades tenham plantas flexíveis para permitir diferentes usos. “Imóveis são ativos de longo prazo. Um apartamento de dois dormitórios precisa poder se transformar em unidade de um dormitório se o filho for viver em outro lugar”, afirma o executivo.
Segundo o presidente do Grupo Lar Brasil, o incorporador tem de ser um “pensador urbano” consciente não só da necessidade da moradia atual do comprador, mas da possibilidade de haver “várias vidas no produto”.
Com mais pessoas trabalhando em casa por causa da pandemia de coronavírus, a incorporadora está revisando seus projetos para que as áreas internas possam ser utilizadas tanto para moradia e quanto para trabalho e as externas possibilitem recebimento de produtos sem contato físico. “A flexibilidade nos ajuda a pensar e desenvolver produtos para a nova realidade”, diz. O executivo ressalta que “São Paulo é uma cidade aberta ao novo”.
A incorporadora desenvolve projetos com unidades de dois dormitórios com até 40 metros quadrados e apartamentos de dois ou três dormitórios a partir de 60 metros quadrados.
O Grupo Lar Brasil tem banco de terrenos que corresponde ao VGV potencial de quase R$ 1,5 bilhão - metade na capital paulista e metade no interior do estado. A empresa atua como incorporadora pura, sem construção própria. Parte dos recursos para desenvolvimento de projetos vem da Espanha, e outra parcela será originada de parcerias, em fase de fechamento, com fundos locais.
Presente no Brasil desde 2010, o Grupo Lar começou a operar em Jundiaí (SP) e, no ano passado, lançou um empreendimento em Campinas (SP). No país, os lançamentos realizados, desde então, somam R$ 750 milhões, com quase 2 mil unidades.
Com a piora da economia, em 2015, a incorporadora decidiu ficar em compasso de espera no país. Em 2018, começou a se organizar para entrar na cidade de São Paulo e crescer. Foi quando contratou para seu conselho de administração, no país, Odair Senra, então conselheiro da Gafisa, e Fábio Nogueira, fundador da Brazilian Finance & Real Estate (BFRE). Em março do ano passado, Carlini, ex-diretor executivo de incorporação da Gafisa, assumiu a direção geral da empresa, no país, e uma vaga no colegiado. Os espanhóis têm dois dos cinco assentos do conselho.
No ano passado, o Grupo Lar tinha sob gestão 3,8 bilhões de euros de ativos, sendo metade na Europa e metade nas Américas. Do total, o segmento residencial responde por 55%, e o restante está distribuído em imóveis para varejo e logística. O Brasil concentra 8% do total de ativos e 21% do segmento residencial. A expectativa é que o país detenha, futuramente, fatia próxima a 50% dos ativos residenciais.