Na busca por um resgate financeiro para a incorporadora Gafisa, o grupo GWI já está em contato com ao menos duas gestoras habituadas a negociar capital e dívida em situações de estresse financeiro, apurou o Valor. Uma delas é a gestora americana Cerberus, com quem a administração anterior da Gafisa já tinha iniciado conversas, e a outra é a consultoria brasileira Starboard, que representa no Brasil o fundo americano de "distressed" Apollo.
A Cerberus está avaliando ativos e participação acionária na incorporadora Gafisa, de acordo com uma fonte com conhecimento do assunto. As conversas são preliminares. A gestora pode comprar créditos e portfólio da incorporadora, como os imóveis em estoque, ou fazer aquisição de participação acionária - nesse último caso, pode utilizar a parceria no Brasil com a gestora de private equity IG4 Capital.
A americana já tinha negociado com a administração anterior da Gafisa no ano passado. Na época, as conversas trataram da negociação de estoques de unidades prontas, principalmente as comerciais, de concessão de dívida conversível em ações da companhia ou de um modelo híbrido dessas duas possibilidades. As conversas aconteceram no primeiro semestre de 2018, mas as tratativas não chegaram a avançar para a definição de valores.
"A Cerberus busca retornos elevados, de dois dígitos em dólar, e não estava tão otimista com o Brasil quanto a gestão anterior esperava que estivesse", conta uma fonte que acompanhou essas negociações, antes da troca de acionistas.
À medida que a GWI - que detém, atualmente, 49,94% da Gafisa - passou a ter participação mais relevante na companhia, a negociação entre a incorporadora e a gestora ficou em segundo plano para as duas partes, conforme a fonte. O Valorapurou, no entanto, que a GWI tomou a iniciativa para reabrir as tratativas este ano.
De acordo com outra fonte, a GWI também procurou a Starboard, consultoria de reestruturação que tem acordo de investimentos para encontrar ativos para o fundo americano Apollo no Brasil. A Starboard e o Apollo fazem estruturas de dívida e capital para as chamadas situações especiais e situações de estresse financeiro.
A Gafisa tem apresentado prejuízo nos últimos trimestres - em nove meses até setembro, a perda acumulada era R$ 123 milhões. A empresa tem caixa correspondente a cerca de 20% de sua dívida, de R$ 960 milhões no terceiro trimestre do ano passado. Neste ano, a GWI contratou a consultoria especializada em recuperação Alvarez & Marsal para ajudá-la a encontrar uma solução financeira para a companhia.
Conforme uma pessoa próxima à incorporadora, a pauta da administração da Gafisa continua sendo uma reviravolta na empresa visando ao crescimento, e qualquer assunto relativo à venda ou à capitalização está no âmbito da GWI, do gestor Mu Hak You.
Procurada pela reportagem, a Cerberus disse que não comenta processos específicos, "mas é correto dizer que a gestora está, ativamente, avaliando investimentos no mercado imobiliário brasileiro". A Starboard e a Gafisa não fizeram comentários.
Ontem, as ações da Gafisa fecharam com queda de 5,32%, cotadas a R$ 11,57 na B3. Em fevereiro a empresa acumula perda de 17,94%. Mas desde o fim de setembro, quando a GWI assumiu a companhia, os papéis ainda sobem 3,4%.