Principais motores da expansão do crédito nos últimos anos, o financiamento habitacional e o consignado passaram por brusca freada em 2015 e não há sinais de que essa tendência de desaceleração se reverterá neste ano.
Em 12 meses até novembro, o estoque de operações de crédito consignado cresceu 9,4%, para R$ 273,3 bilhões, e as carteiras de financiamento imobiliário para pessoa física avançaram 17,1%. Ainda são percentuais expressivos, mas bem abaixo dos registrados no mesmo período do ano anterior, de 13,7% e 28%, respectivamente. O resultado parcial de 2015 mostra as menores taxas de crescimento das duas modalidades desde 2007, quando começa a série histórica do BC, e estão longe de incrementos alcançados em períodos anteriores - o consignado chegou a crescer 37% ao ano e o habitacional, 50%.
O crédito imobiliário esbarrou, no ano passado, numa combinação que limitou seu crescimento: a escassez dos recursos da caderneta de poupança, que aumentou o custo de "funding" na modalidade, e a demanda fraca na compra de imóveis, consequência do baixo ritmo da atividade econômica e da piora da confiança do consumidor.
"Não temos falta de dinheiro. Temos falta de dinheiro barato", diz Gilberto Abreu, diretor-executivo de negócios imobiliários do Santander. "Esse é um mercado que precisa de juros baixos e inflação controlada para conseguir emprestar no longuíssimo prazo", afirmou.
A leitura de economistas e executivos de bancos é que a poupança continuará a perder depósitos em 2016, ainda que em intensidade menor que em 2015, já que a Selic elevada reduz a atratividade da aplicação na comparação com outras modalidades de renda fixa. Em 2015, houve saque recorde de R$ 53,5 bilhões na caderneta.
Abreu afirma que os desembolsos de crédito imobiliário no Santander desaceleraram em 2015, acompanhando o mercado. "Estamos em um patamar diferente, mas continuamos ativos", diz. Uma nova rodada de liberação de compulsórios para o crédito imobiliário, em sua opinião, seria positiva para o setor. Segundo ele, o Santander já usou todos os recursos disponibilizados pela última medida.
"Obviamente, há uma característica assimétrica porque você sempre acaba liberando mais recursos para quem já tem uma quantidade maior de poupança, mas de qualquer maneira é sempre uma notícia bem vinda do ponto de vista setorial", afirma.
João Morais, economista da Tendências, afirma que essa é uma modalidade que vai precisar ser "repensada". Ele afirma que medidas de estímulo ao setor, como a liberação de compulsórios, podem ajudar mas não resolverão a restrição de financiamento desse mercado. "A mudança de funding não acontece de uma hora para outra", diz.
Wermeson França, economista da LCA, espera que o crédito imobiliário siga fraco este ano. "Os saques da poupança devem continuar e há ainda um problema de endividamento das famílias, outro limitante do crédito em 2016", diz.
O crédito consignado também deve ter sua expansão limitada pelos já elevados níveis de endividamento e pelo encarecimento da linha no ano passado, depois que o governo permitiu um aumento da taxa de juros máxima cobrada. No fim de outubro, o governo autorizou a elevação do teto dos juros de aposentados e pensionistas de 2,14% para 2,34%.
O Banco do Brasil, um dos principais atores da modalidade, reconhece a dificuldade em crescer no consignado, não só pela elevada base de comparação, mas também pela menor demanda por crédito em geral. Segundo o diretor de empréstimos e financiamentos do banco, Edmar Casalatina, a estratégia para este ano será ganhar espaço no consignado para aposentados, em que o banco tem uma participação menor que no empréstimo para servidor público.