Mais de 65% das unidades lançadas no mercado imobiliário brasileiro no ano passado estavam enquadradas no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV): 85.180 imóveis do total de 129.432. Os cerca de 35% restantes eram formados por imóveis de médio e alto padrões, cujos lançamentos somaram 44.247 unidades no período.
Os dados são de estudo da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e mostram a importância do programa federal de habitação popular para o setor, embora os números ainda não estejam em patamar de recuperação.
Em 2022, houve redução de 6,4% no número de unidades comercializadas dentro do MCMV e queda de 4% em unidades lançadas. A boa notícia é que essa variação negativa foi puxada principalmente pelo desempenho no primeiro semestre do ano passado, e a recuperação começou a acontecer apartir do terceiro trimestre de 2022, devendo se estender neste ano.
Quem afirma é o presidente da Abrainc, Luiz França, acrescentando que o programa ganhou fôlego após algumas medidas adotadas a partir de maio, como a ampliação das faixas de renda, aumento do limite para R$ 8 mil e extensão do prazo de financiamento de 30 para 35 anos.
— Essas medidas permitiram que 1,3 milhão de novas famílias passassem a ter condições de realizar o sonho da casa própria. Para este ano, o novo Minha Casa, Minha Vida deve ampliar ainda mais esse acesso. No ano passado, foram utilizados apenas R$ 7 bilhões do orçamento de subsídios do FGTS, mas, para 2023, a expectativa é de R$ 19,5 bilhões — afirma França.
No mercado do Rio, as construtoras informam que houve aumento no nú- mero de lançamentos na comparação com 2021. A Direcional Engenharia, por exemplo, lançou 20% a mais de unidades no ano passado e, neste ano, espera um crescimento de 25%, diz o diretor Comercial e de Incorporação da construtora, Adriano Nobre. Para ele, a queda no número de lançamentos de imóveis do MCMV, constatada pelos dados da Abrainc, pode ter relação com a alta acentuada dos insumos da construção civil no ano passado.
— Conseguimos antever o aumento dos custos e fizemos uma série de adaptações que resultaram em impacto financeiro menor para a empresa. Assim, mantivemos nossa programação de lançamentos. O terceiro trimestre de 2022, por exemplo, foi muito bom — ressalta Nobre.
A Novolar também prevê lançar uma quantidade maior de empreendimentos neste ano. O diretor executivo de Finanças e Relação com Investidores, Felipe Enck Gonçalves, concorda em que o segundo semestre do ano passado puxou a alta nas vendas de unidades do programa, uma tendência que deve ser mantida.
— Lançamos 880 unidades em Campo Grande em 2022. Neste ano, a expectativa é de lançar mil unidades em três empreendimentos no mesmo bairro. Até o momento, já colocamos para a venda 200 imóveis do Novolar Moinho, o primeiro lançamento deste ano — adianta.
A CTV Construtora também está otimista com os rumos do programa Minha Casa, Minha Vida, e a expectativa é lançar mais de 500 unidades em bairros como Cascadura, Campinho, Irajá e Santa Cruz. A maior parte deverá ser pelo MCMV, diz o gerente Comercial, Bruno Camargo.
— Os condomínios estarão localizados em regiões bem consolidadas de comércio, serviços e mobilidade urbana, e todos serão contemplados com vagas de garagem, bicicletários, lazer completo e segurança — comenta.
Prédios mistos estão nos planos para 2023
Previsão é de lançamentos em Campo Grande e no município de Mangaratiba
Algumas construtoras querem manter a estratégia de lançar empreendimentos mistos que reúnam unidades enquadradas no Minha Casa, Minha Vida e no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Para Thiago Soares, diretor de Operações da The INC Incorporadora, essa é uma boa estratégia para atrair clientes de faixas de renda variadas. A empresa lançou no ano passado o Campo Real, em Campo Grande, com 168 unidades, 70% delas dentro do programa de habitação popular, e 30% fora.
Segundo Soares, as vendas das unidades não enquadradas do Minha Casa, Minha Vida surpreenderam, levando a empresa a optar pelo modelo misto nos dois empreendimentos que pretende lançar neste ano, um em Campo Grande e outro no município de Mangaratiba.
No início de 2024, a empresa pretende lançar mais unidades em Campo Grande, na Zona Oeste. Em Mangaratiba, o empreendimento terá 50% das unidades enquadradas no Minha Casa, Minha Vida e 50% no SBPE. Dentro do programa, o foco da construtora será a faixa 3, com unidades entre R$ 240 mil e R$ 260 mil.
— Não temos expertise de engenharia para a faixa 1, que costuma ter um método de construção mais rápida, usando modelos pré-fabricados, por exemplo. Dessa forma, não conseguimos competir com construtoras que têm esse know-how — informa Soares.
Foto: Agência Brasil