Em pouco mais de uma década, o tamanho médio dos novos apartamentos encolheu 27% na cidade de São Paulo, segundo dados do Secovi-SP (sindicato do setor).
E são as unidades com apenas um dormitório que, proporcionalmente, mais diminuíram: em média, passaram de 55,7 metros quadrados, em 2009, para 33,2 metros quadrados, em julho de 2019 —uma redução de 40%.
Os apartamentos compactos, com menos de 45 metros quadrados, são também os mais populares. Eles correspondem a mais de 60% das vendas e dos lançamentos na capital, entre janeiro e agosto.
As mudanças nas plantas são impulsionadas, em um primeiro momento, por fatores econômicos, diz o professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Alberto Ajzental, especialista em setor imobiliário.
O Plano Diretor do município, de 2014, fez aumentar o preço dos terrenos ao estimular a construção de edifícios em regiões com ampla oferta de transporte público.
“Como o produto ficou mais caro, os apartamentos diminuem para caber no bolso das pessoas”, afirma Ajzental.
Desde 2015, prédios altos só podem ser construídos em áreas próximas de estações de metrô ou terminais de ônibus. No miolo dos bairros, o limite é de oito andares.
Além das razões econômicas, novos padrões socioculturais estão por trás da diminuição dos imóveis, diz Ajzental.
Os empreendimentos compactos atraem principalmente jovens de até 35 anos que buscam praticidade e abrem mão de espaços grandes por apartamentos em regiões com infraestrutura consolidada. Enquanto as áreas privativas vêm diminuindo, aumentam os espaços de integração e lazer.
O engenheiro Cleber Oliveira, 31, considera o terraço uma das áreas mais interessantes do prédio em que vive no Bom Retiro, região central de São Paulo. O local tem churrasqueira, cozinha, espaço com projetor e mirante.
A localização do imóvel de 30 metros quadrados foi primordial para a compra. Ele está a poucos minutos das estações de metrô Luz, Barra Funda e Santa Cecília. Em troca da boa localização, Oliveira teve de diminuir seu guarda-roupa.
“É preciso planejar o estilo de vida. Você começa a pensar antes de comprar”, diz.
Muitos lançamentos do mercado concretizam a tríade que define esse novo estilo de morar: ambientes compactos, espaços de serviço e lazer compartilhados e estabelecimentos comerciais no térreo.
“O comércio simplifica a rotina dos moradores e aumenta a interação deles com a cidade”, diz Luiz Henrique Ceotto, proprietário da incorporadora e construtora Urbic.
Internamente, os apartamentos são integrados, muitas vezes sem separação entre sala, cozinha e quarto. O espaço se torna flexível.
“A divisória entre ambientes pode ser feita, por exemplo, com a televisão. Com um suporte giratório, ela pode virar para a cama ou para a sala de estar”, afirma Marcello Romero, diretor-executivo da imobiliária Bossa Nova Sotheby’s International Realty.
As sacadas são áreas não computáveis na metragem do imóvel e, proporcionalmente, fazem diferença no ambiente, funcionando como extensão da sala.
Autor do livro “Habitar Híbrido: Subjetividades e Arquitetura do Lar na Era Digital” (Senac São Paulo, 192 págs., R$ 80), lançado em setembro, o arquiteto Guto Requena diz que a onda dos compactos vem ao encontro de uma mudança de comportamento. Hoje, as pessoas trocam de casa com mais frequência e acumulam menos coisas.
O arquiteto critica, porém, como os lançamentos vêm sendo entregues. Hoje, diz, a maioria dos apartamentos é vendida sem projeto de marcenaria, algo que ele considera fundamental para compactos.
“As diferentes atividades do morar, como comer, dormir ou namorar são prejudicadas pela configuração dos compactos. Os moradores têm de fazer tudo no mesmo espaço, sem que o local esteja preparado para isso”, diz Requena.
Segundo Priscilla Bencke, especialista em neurociência aplicada à arquitetura do escritório Qualidade Corporativa, o layout dos imóveis influencia o comportamento dos moradores. “Há casais que chegam em casa e criam o hábito de assistir TV porque na sala só tem sofá com TV”, diz.
Para melhor conforto em ambientes compactos, ela recomenda investir em espelhos, cores claras e linhas horizontais nas paredes, que dão ilusão de mais espaço.
Apesar de ambientes cada vez menores, os compactos retomam a noção de comunidade, algo que se perdeu nas cidades contemporâneas, afirma Requena.
Com essa ideia, a construtora e incorporadora MAC lançou neste mês, com entrega prevista para 2022, o coliving IS Perdizes, com estúdios de 21 a 25 metros quadrados.
O empreendimento terá nas áreas comuns lavanderia e cozinha compartilhadas, academia, espaço para ioga e solário com churrasqueira. As unidades custam a partir de R$ 310 mil. O metro quadrado, de R$ 14,7 mil, está acima da média do distrito, de R$ 12,3 mil.
Não é o único. Na cidade de São Paulo, os apartamentos com menos de 40 m² têm o metro quadrado mais caro do que o de imóveis maiores, segundo levantamento do Grupo Zap. O preço médio do metro quadrado dos apartamentos pequenos é R$ 12,1 mil, enquanto nos imóveis acima de 120 m² é R$ 10,1 mil.
Com entrega prevista para 2021, o Loadd tem unidades de 25 a 65 metros quadrados, a partir de R$ 199 mil. No prédio, que fica em Mirandópolis, as áreas comuns foram estruturadas para estimular o encontro de moradores.
Antes de chegar ao elevador, as pessoas terão de passar ao lado da lavanderia, do bicicletário, do coworking, do bar e da academia, explica o gerente comercial, Ricardo Pajero.
Para o presidente da Vitacon, Alexandre Frankel, a utilização inteligente das áreas comuns e o compartilhamento de serviços traz economia para os moradores.
Conhecida por erguer prédios compactos, a Vitacon entregará em dezembro o VN Nova Higienópolis, na região central de São Paulo, que terá estúdios com apenas dez metros quadrados.