O cenário de escritórios vazios gerado pela pandemia está levando as empresas a procurarem os proprietários dos imóveis para negociar descontos e carência no aluguel. As imobiliárias já observam devolução de salas por pequenas e médias empresas.
— Estão ocorrendo várias negociações, e o desconto varia de 30% a 50%, pelo prazo de 60 a 90 dias. As situações são avaliadas caso a caso. Os proprietários analisam o ramo das companhias: quais passam por perdas e quais estão expandindo — conta Giancarlo Nicastro, presidente da consultoria SiiLA Brasil.
A boa vontade dos locadores se deve à incerteza em relação ao futuro pós-pandemia: de um lado a perspectiva de crise econômica e de outro, o aumento do home office.
A situação é mais grave no Rio, onde o segmento já vinha sendo castigado pela desaceleração da economia do estado.A taxa média de vacância no Rio passa dos 30%, e a previsão é que não haverá lançamentos de prédios comerciais nos próximos dez anos.
Efeito no Porto Maravilha
Nesta semana, por exemplo, a Petrobras informou aos funcionários que terá a opção de home office em caráter permanente para metade da equipe administrativa que trabalha no edifício sede.
— O setor já sofria com crise econômica e excesso de estoque. Agora veio a pandemia. O mercado calcula que já exitem salas comerciais suficientes para os próximos dez anos no Rio — diz Paulo Porto, professor de Negócios Imobiliários da Fundação Getulio Vargas.
Nos prédios de alto padrão (os classe A e A+), a desocupação varia muito por região. Para Luiz Barreto, presidente da Estasa, a Barra e o Porto Maravilha são locais onde o número de escritórios vazios deve aumentar.
No Porto Maravilha, a vacância chega a 40%, de acordo com estudo da consultoria JLL. Evie Kempf, gerente de Locações de Escritórios Rio da empresa, diz que a região abriga sete prédios de alto padrão e foi bastante ocupada no último ano:
— São produtos excelentes que foram entregues no pior momento de crise. No ano passado, as empresas começaram a ver o Porto como uma oportunidade, pois a região tem um preço baixo (50% inferior à perspectiva inicial).
Nos prédios com padrão B e C, as desocupações de salas já começaram. A Martinelli Imóveis, por exemplo, já registrou seis devoluções.
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Os motivos alegados são mudança para um imóvel mais barato, fechamento da empresa ou adoção de home office. O movimento já afeta o valor do metro quadrado do Centro do Rio, que recuou 6%, entre janeiro e maio, segundo dados do Secovi Rio.
— Quando a pandemia acabar haverá um ajuste, pois dependendo do ramo profissional, será impraticável continuar de casa — afirma André Moreira, diretor da empresa.
Mudança no ‘layout’
Segundo pesquisa da consultoria Cushman & Wakefield 73,8% das empresas pretendem adotar o home office de forma definitiva, mas sem abrir mão do escritório. Para Thierry Botto, diretor de transações de escritórios, os layouts de espaços corporativos vão mudar, com menor adensamento de pessoas e redução de estações de trabalho.
Para Felipe Robert Giuliano, Diretor de Locação da CBRE, consultoria na área de locação e gestão de imóveis, o distanciamento entre as pessoas, que hoje no Brasil é, em média, de sete metros quadrados, vai aumentar.
— Para reduzir a densidade, a empresa vai precisar alugar mais espaço ou criar uma escala de funcionários no escritório — prevê.
Giancarlo, da Silla, também não acredita em um modelo 100% de home office. Ele argumenta que, em casa, a cadeira não é adequada, a internet deixa a desejar e falta a troca de experiências.
— Trabalhar em casa não é o melhor dos mundos. Acredito num modelo híbrido com mudança nos escritórios.