Este ano está mais difícil do que o passado para o setor imobiliário brasileiro, mas a culpa é mesmo de 2021, afirma o diretor-financeiro (CFO) do portal ImovelWeb, Tiago Galdino. “Falar em crise é uma falácia, os indicadores mostram que realmente está pior do que o ano passado, mas ele foi o melhor da história do mercado imobiliário brasileiro, [agora] está muito melhor do que em 2020, 2019 ou 2018”, diz.
Apesar da inflação e Selic altas, Galdino ressalta que a curva dos juros do financiamento imobiliário não acompanhou o movimento da taxa básica na mesma intensidade. O que era motivo de reclamação de corretores quando a Selic afundou para 2% ao ano, e o financiamento não caiu nem a 4%, agora é razão para alívio. Para ele, a taxa básica deve chegar a 14,5%. “A taxa de juros está lá em cima, mas os juros do financiamento imobiliário não seguiram a ferro e fogo, tem juros de 8,5% ao ano”, diz.
Ele analisa que o segundo semestre tende a ser mais complicado para o setor, por causa das eleições e da Copa do Mundo, mas acredita que o resultado do pleito não deve causar grandes distúrbios. “O Brasil tem bases e autoridades econômicas e judiciárias que não são tão seguras quanto gostaríamos, mas também não são tão frágeis como na Argentina”, compara.
Galdino afirma que o estoque das incorporadoras ainda está sob controle, o que dá mais tranquilidade para o segmento de usados, maioria no portal, e que sofre quando essas empresas precisam se desfazer a qualquer custo das unidades paradas.
O consumidor, porém, está mais receoso no momento para se comprometer com a compra de algo tão importante quanto um imóvel, admite o executivo.
Nos cinco primeiro meses do ano, foram financiadas com recursos da poupança 293 mil unidades habitacionais, 11,7% menos do que no mesmo período de 2021, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Galdino lamenta que muitos corretores atualmente não estejam capacitados para auxiliar o consumidor na hora da compra do imóvel. “Infelizmente, é uma pessoa que faz um curso de duas semanas e tira certificação”, afirma. Porém, o executivo ressalta que isso representa uma oportunidade para os profissionais que atuam como consultores, conhecem os termos jurídicos, todo o processo de compra e sabem indicar a precificação correta.
Imobiliárias e corretores são 80% dos cerca de 20 mil clientes do ImovelWeb, afirma Galdino, que ressalta sua crença na importância da intermediação para o setor. “É a compra mais importante da sua vida, e a que você tem menos experiência para fazer.”
Desde o final do ano passado, o ImovelWeb é parte do QuintoAndar, que adquiriu o segmento imobiliário do grupo Navent. De acordo com o diretor-financeiro, a operação agregou serviços ao portal, como a empresa de crédito imobiliário Atta e a de garantias locatícias Velo, mas há uma separação entre a área de locações e vendas do QuintoAndar e o ImovelWeb. A proptech é um dos clientes do portal.
Os portais imobiliários têm a função de reunir anúncios de imóveis, gerar leads para imobiliárias, corretores e incorporadoras, mas não realizam as operações de locação e venda.
Deixar essa divisão clara era uma preocupação de Galdino desde o anúncio da compra.
“O QuintoAndar continua anunciando [no ImovelWeb] como outro cliente qualquer, se anunciarem de maneira que monopolize o portal, destruo meu negócio”, diz. Já o questionaram se o portal passaria para o QuintoAndar os leads gerados por imobiliárias que são suas clientes, e o executivo afirma que isso não pode acontecer, porque iria ferir a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Quando anunciou há duas semanas o início de suas operações de locação na Cidade do México, sob o nome Benvi, o QuintoAndar ressaltou a importância de já ter uma empresa do grupo na região, para transmitir credibilidade. É a Inmuebles24, correspondente mexicano do ImovelWeb.
Segundo Galdino, seria mais fácil se a proptech também adotasse outro nome no Brasil, para diferenciar suas operações de locação e compra dos demais investimentos imobiliários, como o próprio ImovelWeb, a Atta e a Velo. “É uma confusão que a gente ainda tem a missão de desmontar. Se tivesse a imobiliária QuintoAndar e outro nome para o grupo, ninguém questionaria”, afirma o executivo.
Passam pelo ImovelWeb entre 7 e 9 milhões de usuários ao mês, e 4 milhões de anúncios. No início da pandemia, houve queda de 30% do tráfego, mas Galdino afirma que o número se estabilizou nos meses seguintes. O portal concorre com o grupo OLX, também responsável pelas marcas Zap e VivaReal
Matéria publicada em 06/07/2022