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18/03/2024

Incorporadoras do Minha Casa, Minha Vida têm melhora de lucro e vendem mais em 2023 (Valor Econômico)

Empresas já divulgaram seus balanços do ano, impulsionados pela volta do programa habitacional

Por Ana Luiza Tieghi

 

As incorporadoras do segmento econômico listadas em bolsa terminaram 2023 com resultados positivos, impulsionadas pelo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

 

As cinco principais empresas, Direcional, Cury, Plano&Plano, MRV e Tenda, tiveram aumento de lucro líquido ou redução do seu prejuízo — caso das duas últimas. A Plano&Plano dobrou seu lucro no ano, para R$ 268,5 milhões, enquanto a Direcional teve aumento de 74,5%, para R$ 331,6 milhões.

 

Todas conseguiram elevar suas margens brutas e receita líquida.

 

Na parte operacional, só a MRV reduziu lançamentos no ano, em 24%, na sua divisão de incorporação nacional, para R$ 5,8 bilhões. Nas demais, o aumento foi de pelo menos 29% no ano.

As cinco empresas registraram alta nas vendas líquidas de, no mínimo, 26% em 2023. O destaque foi da Plano&Plano, com 82% de crescimento no indicador.

A Plano&Plano é também a companhia cuja ação mais se valorizou neste ano, entre as cinco citadas. A cotação subiu 19,4% desde o início de janeiro, até a sexta-feira (15). Em seguida vem a Cury, com 17,73% de valorização, e a Direcional, com 14,54% de alta.

Tenda e MRV, que registraram prejuízo no balanço do ano passado, tiveram queda em bolsa — de 15,62% e 23,13%, respectivamente. São companhias que passam por fase de recuperação de rentabilidade, após um 2022 e 2023 mais difíceis, com impacto do aumento de custos da construção ocorrido na pandemia. São também as empresas que têm mais obras nas faixas iniciais do MCMV, que receberam menos atenção e recursos no governo anterior, quando o programa se chamava Casa Verde e Amarela.

 

Sobre a Tenda, os analistas do BTG Pactual disseram que “o pior ficou para trás”, e que o último trimestre da companhia deixou claro que ela está no “caminho certo para recuperar a lucratividade”. Em relatório intitulado “a espera é a parte mais difícil”, os analistas do Citi mantiveram indicação de compra para a ação da incorporadora.

Já os resultados da MRV foram recebidos com visões mistas. Enquanto o BTG considerou-o “fraco”, o quarto trimestre foi “levemente positivo” para o Itaú BBA, que relatou uma percepção de que a recuperação da companhia “está nos trilhos”. Para a XP, o desempenho também ainda é fraco, mas o lado operacional e o crescimento de receita são “encorajadores”.

 

Dados divulgados na última semana pela Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias) deixam claro o impulso dado pelo programa habitacional do governo. Em pesquisa com 20 incorporadoras associadas, os lançamentos no MCMV subiram 17% em número de unidades em 2023, e 39% em valor lançado. As vendas cresceram 42% em volume no mesmo intervalo, com alta de 55% no valor vendido. Já o segmento de médio e alto padrão teve queda em lançamentos e vendas com elevação mais branda.

 

Em meio ao cenário positivo, uma preocupação das incorporadoras de baixa renda tem sido o consumo de recursos para financiar o programa, que vêm do FGTS. Dados preliminares mostram que, se o volume utilizado em janeiro e fevereiro se tornar tendência para o ano, estaria 20% acima da meta para 2024.

 

Executivos do setor apontam o uso de recursos do FGTS para financiar imóveis usados como um dos problemas. Rafael Menin, copresidente da MRV, afirmou em evento com analistas que 30% dos recursos do programa estão indo para a compra de usados, enquanto o setor defende uma redução para 15%. “O que ninguém quer é ter um programa com excesso de contratações em 2024 e 2025, mas que tenha que ser reduzido em 2026 ou 2027”, disse.

 

Outra “pedra no sapato” do setor é o julgamento no STF sobre a remuneração do FGTS, que começou no ano passado, foi paralisado em novembro, e deve ser retomado nos próximos meses. Uma elevação da remuneração do fundo aos seus cotistas poderia tornar os recursos do MCMV mais escassos e exigiria adaptações por parte do programa e das empresas.

Pelo lado positivo, é esperada para a próxima reunião do conselho curador do fundo, na terça-feira (19), a aprovação do FGTS Futuro, que permite usar o crédito mensal na conta do consumidor como parte de sua comprovação de renda, ao adquirir uma unidade no grupo 1 do MCMV, que atende famílias que ganham até R$ 2.640 ao mês.

FONTE: VALOR ECONôMICO