Chiara Quintão
O anúncio de elevar da fatia máxima a ser financiada de imóveis usados, de 50% para 70%, feito pela Caixa Econômica Federal na terça-feira, surpreendeu o setor de incorporação, segundo o presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Rubens Menin.
O limite tinha sido reduzido de 80% para 50% em maio do ano passado. Nesta semana, a Caixa informou também que terá R$ 16,1 bilhões adicionais com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para financiamento habitacional.
"O anúncio foi extremamente oportuno, pois faltam recursos da poupança para o financiamento do setor", afirma Menin, acrescentando que se trata de "esforço da Caixa para injetar liquidez na economia".
À medida que a parcela financiada de imóveis usados aumenta, tende a crescer a procura por unidades novas por parte de quem pretende migrar para uma unidade de padrão melhor. Na prática, portanto, os imóveis novos mais beneficiados pela medida são os de médio e alto padrão, de acordo com Menin.
"Toda vez em que melhoram as condições para a compra de usados, melhoram também as condições para os novos", afirma o presidente da Abrainc.
A Gafisa é uma das incorporadoras que avalia que o aumento da fatia de imóveis usados a ser financiada pela Caixa beneficia seus clientes potenciais e contribui para o giro dos estoques. "A medida traz nova atratividade no mercado", afirma o diretor de Vendas e Marketing da incorporadora, Lucas Tarabori.
Segundo o executivo da Gafisa, boa parte dos compradores de imóveis de média e média-alta renda vendem a unidade em que moram para adquirir uma nova. O diretor financeiro e de relações com investidores da EZTec, Emilio Fugazza, também considera que a medida funciona como um apoio para a venda do imóvel usado e compra do novo. "Recebemos o anúncio com alegria e entusiasmo", afirma Fugazza.
Mas, na avaliação do executivo da EZTec, o anúncio é positivo desde que tenha sido feito em bases técnicas e não seja político. "O receio é que seja político, o que o torna um castelo de areia, sem o efeito esperado para o setor", diz Fugazza. Mas, se os recursos estiverem disponíveis, de fato, 2016 será um ano melhor do que o previsto para a EZTec e para o setor, segundo o executivo.
O presidente da Abrainc diz acreditar que a Caixa já possua os recursos necessários para elevar o percentual máximo financiado de imóveis usados. Menin acrescenta que será necessário liberar o compulsório da poupança, em um futuro próximo, para que haja mais liquidez no setor.
Para o economista-chefe do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, Celso Petrucci, o anúncio da Caixa foi uma mensagem subliminar de que o banco tem recursos para financiamento de imóveis novos para 2016 e para melhorar o de usados.
O presidente do Secovi-SP, Flavio Amary, afirma que é fundamental que existam recursos disponíveis para financiamento, mas que é preciso confiança por parte dos compradores. "As medidas são positivas para o mercado, mas o mais importante não se consegue resolver numa caneta. Confiança está ligada à economia e, se formos mais longe, à política", diz Amary. O presidente do Secovi-SP acrescenta que o custo do financiamento imobiliário está muito elevado.
Na avaliação de Tarabori, da Gafisa, outros bancos tendem a ser incentivados a também aumentar a cota máxima de financiamento a usados. Já o diretor financeiro e de relações com investidores da Cyrela, Eric Alencar, diz que não há razões para que outros bancos adotem a medida. "O funding está mais limitado com os saques da poupança", diz o executivo da Cyrela.
Alencar afirma que a mudança é positiva, pois o crédito facilitado para a compra de imóveis usados aquece também o mercado primário, mas afirma que a Caixa precisa ponderar quanto irá liberar para unidades usadas para que não falte crédito para as novas. "É o imóvel novo que movimenta a economia como um todo", afirma o diretor da Cyrela.