Os últimos dois anos foram de desempenho recorde no mercado imobiliário e 2022 conseguiu surfar na onda dos bons indicadores trazidos por eles. No entanto, 2023 e 2024 serão mais desafiadores, porque é quando serão sentidos com mais força os efeitos do aumento dos juros e da inflação, no país e no mundo. A conclusão é do economista da equipe de DataHouse do QuintoAndar, Vinícius Oike, em relatório publicado na semana passada.
Como a inflação só deve voltar à meta em 2024, e a redução da Selic ainda levará alguns meses - e a incerteza sobre o novo governo não ajuda a reduzir esse prazo - é esperado um ano mais complicado para o setor. Segundo ele, para quem deseja comprar um imóvel, mas não tem pressa para fazer isso, “pode ser o momento de esperar”.
Já quem deseja vender sua unidade precisa se preparar para levar mais tempo para encontrar um comprador. O consolo é que os preços dos imóveis seguem altos.
O segmento de aluguel se beneficia dessa situação, pois uma maior dificuldade em comprar a moradia empurra mais famílias para a locação. Oike ressalta que, segundo o Índice QuintoAndar de Aluguel, o valor da locação subiu 17,3% em São Paulo entre agosto de 2021 e setembro de 2022.
O índice de locação residencial FipeZap+ registrou alta de 0,87% no aluguel em outubro, ante setembro. A elevação foi a menor dos últimos seis meses, mas supera a alta do IPCA em outubro, de 0,59%.
As incorporadoras divulgaram neste mês seus balanços do terceiro trimestre, e o consolidado dos indicadores aponta queda anual de 57,5% no lucro líquido, que somou R$ 347,7 milhões, e margem bruta média de 26,1%, retração de 5,6 pontos percentuais ante o mesmo período de 2021, de acordo com o Valor Data.
A recuperação de margem segue como tema principal para essas empresas, em todos os padrões. O segmento econômico tem maior dificuldade para subir as margens, porque há limitações ao repasse de preço ao consumidor, mas apresenta perspectivas melhores do que o setor de média e alta renda.
As melhorias realizadas no programa Casa Verde e Amarela, somadas à eleição de Lula e do PT, que tradicionalmente tem atuação forte no desenvolvimento de habitação para baixa renda, são vistos como fatores positivos.
Eduarda Tolentino, sócia e presidente do conselho de administração da incorporadora BRZ, que atua no segmento econômico no interior de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, vê um 2023 “promissor” em relação à política habitacional do país. A empresária ressalta que, independentemente do resultado da eleição, a perspectiva já era positiva, por causa das atualizações feitas neste ano.
O prazo de financiamento elevado de 30 para 35 anos, por exemplo, aumentou a capacidade de pagamento dos clientes em 10%, diz.
Nos últimos meses, a companhia precisou desenquadrar do CVA ao menos 40% de suas unidades. Agora, espera poder voltar a atuar mais no programa. “Se conseguirmos ter política habitacional que traga margem e rentabilidade para ficar dentro do programa, é o melhor dos mundos, só migramos para fazer a conta fechar”.
No início do mês, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgou pesquisa de confiança do setor, feita pela Deloitte, que apontou alta de 16,7% na procura por imóveis do CVA no terceiro trimestre, enquanto o incremento para média e alta renda ficou em 3,1%, em relação ao segundo trimestre deste ano. Também houve aumento mais expressivo nas vendas do CVA no trimestre, de 16,9%. O setor de média e alta renda elevou as vendas em 2,3%.
Representante do segmento de média e alta renda, a incorporadora You,Inc prevê terminar 2022 com R$ 1,1 bilhão em lançamentos, e tem pipeline para alcançar R$ 1,8 bilhão no próximo ano, mas está reticente sobre o volume que colocará no mercado. Para Abrão Muszkat, fundador e presidente da companhia, ainda há muita incerteza sobre como será a condução da economia no próximo governo. A depender do caso, a empresa pode manter o patamar atual.
Para os materiais de construção, os dados de faturamento e vendas seguem indicando queda ante 2021. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) registrou recuo de 6,6% no faturamento entre janeiro e outubro, sobre o mesmo período do ano passado. A entidade ainda projeta queda de 2,2% em 2022.
O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) prevê queda de 2% nas vendas em 2022, valor em linha com a retração de 2,7% entre janeiro e outubro.
Apesar dessa situação do setor, a companhia de metais sanitários Fani ainda prevê crescer 10% em 2022. Segundo o diretor-geral Thiago Cristofani, a estagnação do preço das matérias-primas ajuda. Ele analisa que a dificuldade persistente em importar produtos da China pode impulsionar a indústria nacional em 2023, e a Fani aposta nisso. “Estou investindo muito, vamos mudar para um novo galpão e abrir possibilidade de trabalho em dois ou três turnos”.
Matéria publicada em 30/11/2022