A inflação acumulada em 12 meses até a segunda prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de fevereiro registra alta de 28,64%, a maior alta desde junho de 2003 (28,68%), informou o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz.
O indicador em 12 meses, muito usado para reajustes em contratos de aluguel, foi fortemente pressionado pela disparada de preços no atacado no período, detalhou o especialista. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), 60% dos IGPs, acumula alta de 39,7% em 12 meses até fevereiro, a maior taxa desde maio de 2003 (41,35%), detalhou o técnico.
Braz comentou que há meses a inflação atacadista tem sido pressionada por comportamento de commodities mais caras no mercado internacional. Além de cenário de maior demanda do que oferta, esses produtos também foram pressionados, no fim do ano passado, pela disparada do dólar - visto que os preços de commodities, no mercado doméstico brasileiro, são influenciados por cotação da moeda norte-americana.
O especialista reiterou sua posição de que, no caso de reajustes em preço de aluguel, a inflação dos aluguéis não deve disparar devido à taxa maior do IGP-M em 12 meses, tendo em vista o atual cenário de pandemia. Com a crise econômica originada pela doença, ocorreram muitas devoluções de imóveis, sejam comerciais ou residenciais, afirmou ele. Como há muita oferta, em negociação entre senhorios e inquilinos, é possível convencer o proprietário a não reajustar pelo que está estabelecido em contrato, com uso de IGP-M em 12 meses.
No entanto, ele fez uma observação. Ao ser questionado se o fenômeno atual poderia conduzir a um desuso do IGP-M para reajustar aluguel, ele admitiu que existe essa possibilidade. Na prática, os resultados dos IGPs têm sido cada vez mais influenciados por comportamento de preços no atacado. A inflação desse setor atacadista, notou ele, não é muito conectada com realidade de preços do setor imobiliário, admitiu o técnico. "Acho que o mercado vai encontrar outras alternativas [para reajustar aluguel]", resumiu ele.