A evolução tecnológica dos últimos anos tem transformado o setor imobiliário. Ferramentas alimentadas por inteligência artificial (IA) processam e analisam volumes cada vez maiores de dados, ajudando incorporadores, investidores e compradores na tomada de decisão — seja para identificar oportunidades de negócio, acelerar processos, revolucionar métodos construtivos, dar assertividade a campanhas de marketing ou facilitar a jornada do cliente.
Segundo estudo da McKinsey Global Institute (MGI), apenas o uso de IA generativa pode agregar mais de US$ 180 bilhões ao ecossistema de “real estate” global.
Em São Paulo, a Hypnobox desenvolveu uma solução direcionada a incorporadoras e corretoras especializadas em vendas de imóveis na planta que, baseada em “IA Assist”, tem colaborado para potencializar resultados de clientes como as gigantes Diálogo, Even, Exto, Lavvi e Coelho da Fonseca.
“Na área operacional, por exemplo, a ferramenta automatiza a gestão de contratos, agilizando uma atividade monótona e desgastante da rotina do setor”, explica Rafael Yoshioka, fundador da Hypnobox, há dez anos no mercado, que tem na carteira 98% das grandes incorporadoras do país.
Na busca por performance, o executivo destaca o potencial da ferramenta na criação de campanhas de marketing digital mais assertivas. A estratégia inclui testes com 150 variações de propostas de valor para um entendimento mais profundo do público-alvo a ser impactado.
“As visualizações de um post no Instagram e o número de cliques que atrai podem ser indicadores sutis do sucesso (ou não) de um empreendimento. Sinaliza o quanto aquele produto está sendo aceito em relação à oferta e à demanda do mercado”, diz Yoshioka.
Segundo o executivo, esse suporte de IA nas campanhas pode aumentar em até 300% a taxa de conversão por meio do canal digital. Além disso, ajuda o incorporador a evitar o desperdício de recursos para impactar consumidores que não estão interessados em comprar um imóvel naquele momento.
A jornada do cliente também tem sido impactada. O Apê Perfeito, da Tegra Incorporadora, é uma plataforma de “match” imobiliário que propõe uma trilha especial a partir de 15 perguntas feitas pela atendente virtual para apurar desejos e percepções do interessado.
Para o futuro morador, a ferramenta pergunta sobre localização pretendida, se vai morar sozinho, se tem pets, tipos de planta que gosta e o que faz no fim do dia. Os investidores detalham o perfil socioeconômico do bairro de interesse, valor do metro quadrado na região, reputação da incorporadora e estágio da obra de cada produto.
Ao final, eles recebem uma seleção de imóveis captados entre 40 projetos de médio e alto padrões nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Niterói, que estão no portfólio da empresa.
Para Yoshioka, esse tipo de solução, criada pela Hypnobox para a Tegra, personaliza mais o atendimento. “As informações obtidas pela IA ajudam o corretor a customizar a abordagem do cliente, sem tratá-lo de forma genérica nem perder tempo com perguntas já respondidas”, diz o CEO da proptech. “A inteligência artificial é uma realidade, e quem surfar essa onda mais cedo vai extrair vantagem disso.”
ANÁLISE DO CLIMA
O uso de IA para análise de parâmetros climáticos já é amplamente adotado na agricultura, por exemplo. Agora, essa abordagem chega ao mercado imobiliário. A multinacional Meteum, com sede na Armênia, fornece previsões meteorológicas e do clima a diversos países.
A plataforma utiliza IA e “machine learning” para criar análises preventivas e preditivas que auxiliam produtores rurais a desenvolver suas lavouras de maneira eficiente e protegidas de eventos climáticos desfavoráveis.
Para o CEO da empresa, Alex Ganshin, a construção civil pode ser muito beneficiada pela adoção dessa ferramenta, que fornece dados históricos sobre a qualidade do solo, padrões de precipitação, riscos de inundações e de temperaturas extremas relacionados ao terreno onde as empresas pretendem construir.
Segundo estudo do governo brasileiro, o país tem 1.942 centros populacionais com 8,9 milhões de pessoas residindo em áreas suscetíveis a enchentes e deslizamentos de terra — mais que o dobro do número identificado há 12 anos.
“Tecnologias climáticas com IA podem ajudar os agentes imobiliários a mitigar riscos relacionados a alterações climáticas, sugerindo áreas mais seguras, materiais de construção mais eficientes, posicionamento do empreendimento e dimensionamento de sistemas de energia renovável”, afirma Ganshin.
