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06/06/2016

Itaú replica modelo do Copom e não vê queda da Selic

O departamento de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco procura replicar o modelo econométrico do Banco Central do Brasil no "Cockpit do Copom".

A taxa Selic não pode cair. Essa é a mensagem do modelo de previsão de inflação do departamento de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco, que procura replicar o modelo econométrico do Banco Central do Brasil no "Cockpit do Copom" - um relatório construído a partir da evolução de indicadores de atividade econômica, projeções de inflação e pelo "Copômetro", um indicador da comunicação do BC.

O relatório, distribuído a clientes do Itaú, foi lançado em fevereiro, quando o economista Ilan Goldfajn, futuro presidente do BC, chefiava o departamento econômico da instituição. Embora os economistas do Itaú não tenham a intenção de prever as ações do BC, a reprodução do seu modelo leva o "Cockpit do Copom" a sinalizar ao menos a tendência dos juros. E, neste mês de junho, não há espaço para movimentos da autoridade monetária.

Além da insistente reprise do discurso da última ata do Copom - ponto de partida para a análise do Itaú -, de que as condições econômicas "não oferecem espaço para flexibilização da política monetária", a aplicação de um cenário de referência construído a partir de projeções de documentos do BC (com Selic estável a 14,25% ao ano e câmbio a R$ 3,55) no modelo de previsão da autoridade não dá margem a dúvida: Alexandre Tombini poderá transmitir a presidência da instituição a Ilan Goldfajn com uma indicação concreta da possibilidade de a inflação deste ano ficar abaixo do teto da meta de 6,5% e a do próximo ano em 4,5% - efetivamente a meta de inflação brasileira.

Caio Megale e Laura Pitta, economistas do Itaú responsáveis pela construção do "Copômetro" e por seu monitoramento, afirmam que o objetivo desse trabalho é apresentar aos clientes o material que estará sendo analisado na reunião do Copom. A próxima começa amanhã e termina na quarta-feira. Se confirmada a sinalização do "Cockpit", a taxa básica Selic ficará inalterada pelo sétimo encontro consecutivo, no patamar mais elevado em uma década.
Megale e Laura comentam que o Copômetro - que mede o grau de restrição ou expansão da comunicação do BC - segue em território expansionista, mas não para sugerir corte da Selic nesta semana.

A princípio, a dupla de economistas não prevê tampouco mudança no comunicado divulgado pelo comitê após a reunião: "É provável que o comunicado seja semelhante ao da reunião passada. Sinalize que as condições econômicas 'não oferecem espaço' para flexibilização da política monetária". E fazem um adendo: "No entanto, haja vista que a mudança de comando no BC deve acontecer antes da reunião de julho, é possível que o Copom opte desta vez por um comunicado mais lacônico, deixando as possibilidades [de decisão sobre a taxa] mais abertas para o novo colegiado".

Feita a ressalva, os economistas afirmam que a atividade econômica fraca e a expectativa de que a inflação voltará a cair abrirão espaço para cortes de juros no segundo semestre. Quanto à intensidade e velocidade da queda da Selic, dependerão, entre outros fatores, da aprovação e execução das medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo interino.
Megale e Laura reconhecem que o presidente interino, Michel Temer, anunciou duas medidas relevantes (definição de um teto para as despesas e antecipação de pagamento de dívida pelo BNDES ao Tesouro), mas reafirmam a necessidade de reformas estruturais e lembram que a melhora fiscal em abril foi pontual.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO