O foco do programa Casa Verde e Amarela no Norte e Nordeste surpreendeu alguns empresários da construção civil, que esperavam juro menor no financiamento habitacional não apenas para essas regiões e, sim, para todo o país.
O programa, anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro na terça-feira, substitui o Minha Casa Minha Vida, criado na gestão petista. Uma das novidades é a redução nos juros, que hoje variam entre 5% e 5,5% ao ano.
As regiões Norte e Nordeste serão as mais beneficiadas pelos cortes. Nessas localidades, a taxa cairá em até 0,5 ponto percentual para famílias com renda de até R$ 2 mil mensais e 0,25 pp para quem ganha entre R$ 2 mil e R$ 2,6 mil. Assim, o percentual ficará em 4,25% ao ano e, nas demais regiões, em 4,5%.
Alguns representantes do setor dizem que esperavam uma diminuição da taxa em todos os estados:
— É claro que seria melhor que a redução fosse para todas as regiões. Um corte generalizado de 0,5 ponto percentual nos juros habilitaria até 1,8 milhão de famílias para buscar o financiamento de imóveis. Há uma conta simples que é: quanto menor o juros, menor a renda necessária para financiar — afirma Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileiras de Incorporadoras (Abrainc).
Ele pondera, no entanto, que a redução do juro para o Nordeste e o Norte significa um avanço importante. Essas regiões têm um déficit habitacional de 2,8 milhões de moradias.
De acordo com França, o Brasil tem um déficit habitacional de 7,8 milhões de moradias, sendo que 91% referem-se à população com renda de até três salários mínimos. A redução desse déficit, portanto, passa por concentrar o foco na demanda da baixa renda.
— A queda de 0,5 ponto percentual amplia o valor de financiamento em até 5,8% no Norte e Nordeste e 2,9%, nas demais regiões. Ou seja, famílias de menor renda terão o acesso facilitado na hora de buscar o crédito para financiar seu imóvel.
Rodrigo Luna, vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP, afirma que o setor esperava uma redução maior das taxas de juros em todo o país, mas sabe que era o 'possível de se fazer, com responsabilidade´.
— Com o ajuste nos juros, o programa restabelece o equilíbrio nessas regiões do País, buscando prover habitação para todos. O mais importante é manter a perpetuidade do programa — considera.
Taxas diferenciadas
Rafael Menin, copresidente da MRV, considera acertada a decisão de o Nordeste e Norte terem taxas diferenciadas do restante do país, já que são regiões com renda menor e muita informalidade. Líder de vendas no segmento, 20% das vendas da companhia são fechadas no Nordeste.
— O governo já vinha sinalizando que o Nordeste deveria ter tratamento diferenciado, pois é a região que contrata menos unidades. O que o governo fez foi ajustar os parâmetros. O Brasil é muito diverso. Esta taxa veio para dar equilíbrio ao programa - afirma.
Claudio Hermolin, CEO da Brasil Brokers e presidente da Ademi-RJ (Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do RJ), concorda:
— A gente sabe que o Brasil é uma país com proporções muito grandes, com diferenças muito grandes. A redução de juros, no geral, é muito positiva, e o fato de eles serem ainda menores no Norte e Nordeste faz sentido para a diversidade do nosso país.
Segundo Ricardo Ribeiro, presidente da Direcional Engenharia, a redução dos juros no Norte e Nordeste vai motivar o incremento do número de projetos nessas regiões. A empresa já tem empreendimentos na área.
— É de fundamental que um programa de abrangência nacional procure atingir todas as regiões do país da forma mais equânime possível.
Na incorporadora RNI, as novas taxas de juros terão um impacto localizado, segundo o diretor de marketing, vendas e incorporação da empresa, Henrique Cerqueira.
A empresa atualmente constrói dois empreendimentos no Nordeste: os condomínios horizontais Reserva Sim, em Feira de Santana, e o Moradas das Flores, na região metropolitana de Fortaleza, que devem se beneficiar das novas regras. No entanto, o foco de novos empreendimentos são no Centro-Sul do país.
— O programa Casa Verde Amarela não tem alterações de taxas para os grupos 2 e 3 na maior parte dos estados brasileiros. Por isso, o programa não terá um efeito novo determinante para a incorporadora, já que muitas regras do programa Minha Casa Minha Vida devem permanecer