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04/02/2022

Juro pago em títulos de dívida do agro e imobiliária sobe acompanhando a Selic

De acordo com levantamento da consultoria LUZ Soluções Financeiras, porém, a diferença do juro pago nesses títulos e o título público diminuiu, chegando a patamares pré-pandemia

O mercado de dívida corporativa nos setores de agronegócio e imobiliária está acompanhando de perto a mudança da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,75% ao ano. Entre as cinco classes de ativos de crédito privado analisadas, as Letras Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) são as que registraram os maiores juros no fim do ano passado.

Esses papéis são emitidos por instituições financeiras e o recurso é direcionado para financiar empresas desses segmentos. As LCIs, por exemplo, chegaram a ter um aumento de 5,88 pontos percentuais na taxa média de juro pago pelos títulos de dezembro de 2019 até o mesmo mês de 2021, enquanto as LCAs tiveram um aumento de 6,29 pontos percentuais.

É o que mostra levantamento feito pela POP BR, empresa da consultoria LUZ Soluções Financeiras, e divulgado em primeira-mão pelo Valor Investe.

Em dezembro de 2019, o juro médio pago na LCA era de 4,27% ao ano; em dezembro de 2021 já estava em 10,56%, bem acima inclusive do fim do trimestre anterior, em setembro de 2021 (8,60%). No caso da LCI, o juro pago em dezembro de 2019 era de 4,84%; em setembro de 2021 estava em 9,93%; em dezembro de 2021 havia saltado já para 10,72% ao ano.

De acordo com Aruã Torigoe Kalmus, analista da POP BR e responsável pelo levantamento esta performance deve-se ao fato de serem ativos que acompanham o CDI e, como viemos acompanhando, desde o ano passado o Comitê de Política Monetária (Copom) já subiu a Selic de 2% ao ano para atuais 10,75%. Ou seja, os rendimentos pagos pelas LCIs e LCAs acompanharam este movimento.

O juro sobe porque os investidores novos se baseiam na Selic para dizer o que seria uma remuneração justa. Como a taxa básica de juros já estava em 9,25% ao ano no fim de 2021, é natural que os investidores só topem comprar papéis de crédito privado se eles pagarem uma remuneração maior. Na prática, quando o juro fica maior, contudo, o preço do papel no mercado se desvaloriza, o que é ruim para quem já está com os ativos na carteira, que vê o valor do seu título cair.

Torigoe ressalta, contudo, que estes papéis – LCIs e LCAs – vêm reportando "spreads" menores a cada trimestre de 2021. O spread é a diferença entre o juro cobrado pelo investidor para adquirir e segurar na carteira aquele papel e a taxa livre de risco do mercado (título público, por exemplo). O spread representa o ganho real para o investidor.

No caso da LCI, o spread passou de 0,24 ponto percentual em dezembro de 2019, para 1,09 ponto percentual em dezembro de 2020 e apenas 0,07 ponto percentual no fim de 2021. Já a LCA saiu de um spread negativo de 0,35 ponto no último mês de 2019, para registrar um positivo de 1,25 ponto em dezembro de 2020 e voltar a 0,42 ponto agora.

Apesar de as taxas de juros das LCAs e LCIs terem encerrado dezembro muito próximas (10,56% e 10,72%), a queda dos spreads das LCIs foi mais significativa, ficando em 0,07% contra 0,42% das LCAs. De acordo com Torigoe, esta diferença deve-se ao fato de quase todas as LCIs analisadas serem prefixadas, enquanto as LCAs envolverem percentuais do CDI.

CRI e CRA

No caso dos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), que são títulos de dívida corporativa emitidos por seguradoras, a diferença de juros é um pouco menor do que seus primos bancários, mas ainda assim houve uma boa diferença entre dezembro de 2019 e 2021: 2,64 pontos e 3,19 pontos percentuais, respectivamente.

Segundo Torigoe, avaliando todos os papéis conjuntamente, é possível notar que, no início da pandemia, houve um aumento do spread, estabilizado durante o segundo semestre de 2020 e início de 2021. No final de 2021, nota-se uma tendência de queda, retornando ao patamar de dezembro de 2019, ou seja, pré-pandemia.

“Esse movimento pode ter duas causas que são, de certa forma, relacionadas: aumento do risco percebido pelos investidores em relação a continuidade operacional dos devedores (que exigiriam um retorno maior por conta deste risco maior); e necessidade de geração de caixa (por parte de fundos) para cobrir saques dos investidores (o que gerou uma ‘liquidação’ de bons ativos)”, explica.

Oportunidade - Torigoe ressalta ainda que, com o aumento das taxas de juros, os ativos de renda fixa voltam a ganhar espaço por oferecerem retornos similares (por vezes até melhores) aos da renda variável e riscos inferiores. “Com mais investidores migrando para a renda fixa, a tendência é que os preços subam, derrubando o spread”, ressalta.

FONTE: VALOR ECONôMICO