Brasília - Os bancos brasileiros voltaram a aumentar os juros cobrados das famílias. De acordo com os dados divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central, a taxa média cobradas de pessoas físicas subiu de 71% ao ano para 71,7% no mês passado. É a mais alta já registrada pelo BC, desde 2007, nos empréstimos com crédito livre, ou seja, sem levar em consideração os financiamentos de casa própria.
Os bancos aproveitaram para cobrar mais de quem está disposto a renegociar as dívidas. Os juros médios nesse tipo de modalidade aumentou de 54,7% ao ano para 56% ao ano.
Essas elevações são vistas num momento em que a inadimplência das famílias tem mostrado estabilidade. No mês passado, apenas o nível de calote em crédito livre subiu levemente, de 6,2% para 6,3%. Foi o primeiro movimento desse percentual, que estava estável desde dezembro do ano passado.
Estimativa para o crédito - A crise econômica foi tão forte nos primeiros meses deste ano, que os bancos negaram empréstimos para os clientes que demandaram. A procura também diminuiu porque, num período de incertezas, famílias e empresas procuram não comprometer renda futura. Por isso, o Banco Central revisou sua estimativa para o crédito no Brasil. Antes, apostava que haveria um crescimento de 5%. Agora, a previsão é quase de estabilidade com uma alta de apenas 1% do saldo dos empréstimos no país: um sinal de que a recessão e a falta de confiança fizeram um estrago maior que o previsto antes. Na contramão, as instituições aproveitam para cobrar mais dos correntistas mesmo com o custo de captação do dinheiro mais baixo.
No ano passado, quando o país já estava em crise, o crédito cresceu 6,7%. O crédito direcionado continua a aumentar, mas o livre (aquele em que o banco escolhe como pode emprestar) cairá 1% neste ano. As instituições mais retraídas são as privadas nacionais. No ano passado, já diminuíram o saldo em 1%. A queda em 2016 deve ser muito maior: 4%. A estimativa já leva em consideração os impactos da saída do Reino Unido da União Europeia.
No mercado de crédito brasileiro, o funding (recursos que o banco tem para emprestar) é doméstico. O mercado financeiro está muito sólido, tem liquidez e provisionamento. Isso contribui para enfrentar esse momento — argumentou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Normalmente, os saldos de crédito tendem a crescer, já que, na contabilidade, entram os juros pagos. Para haver uma queda, é preciso uma retração forte nas concessões. Foi o que aconteceu nos quatro primeiros meses deste ano. Desde o início do ano, a queda foi de 2,3%, apesar de uma leve alta de 0,1% no mês passado.
Não observávamos na série histórica quedas mensais. Isso reflete o dinamismo baixo da atividade econômica — acrescentou o técnico da autoridade monetária.