Por Ana Luiza Tieghi
O número de residências lançadas no país subiu 18,6% em 2024 e as vendas avançaram 20,9%, de acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), divulgados nesta segunda-feira (17). Os dados abrangem empresas de 221 cidades do país.
Foram lançadas 383,5 mil unidades, que somam R$ 233 bilhões em valor, alta de 20,7% em um ano. Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário) e membro da Cbic, ressaltou que esse volume é o maior desde o primeiro trimestre de 2017, o início da série histórica da entidade. As vendas atingiram 440,5 mil unidades, com valor de R$ 229 bilhões, aumento de 22,6%.
oferta final, que representa os imóveis novos disponíveis para compra, caiu 7,8% em um ano e terminou 2024 em 291,9 mil unidades. Essa queda também é visível no indicador de meses necessários para o escoamento da oferta, que caiu de 11,5 meses, no fim de 2023, para 8,7 meses em dezembro de 2024.
O desempenho do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) ajudou a trazer esses números para cima. Foram lançadas 187,4 mil unidades pelo programa, alta de 44,2%, e vendidas 168,8 mil, aumento de 43,3%. Ao fim de 2024, o tempo para escoamento da oferta de imóveis do MCMV havia recuado de 9,4 meses para 7,2 meses.
Conjuntura afeta mais classe média e alta
Em coletiva de imprensa para divulgar esses dados, o presidente da Cbic, Renato Correia, afirmou que, em 2025, “o mercado imobiliário continuará forte, apesar dos desafios”. São eles o ciclo de alta dos juros, que encarece o financiamento ao cliente final e ao construtor; a inflação; a preocupação com custos de mão de obra e a previsão de crescimento menor, neste ano, do setor de construção civil e da economia como um todo.
Os imóveis para classe média e alta devem ser mais afetados pela conjuntura macroeconômica, já que o MCMV tem taxas fixas de juros e um orçamento separado, com recursos do FGTS, para financiar os compradores. Segundo a entidade, pode haver “menor volume de lançamentos e menor velocidade de vendas” nos imóveis de médio e alto padrão.
Consignado e saque-aniversário
Outra preocupação da entidade é com a nova versão do crédito consignado privado, que o governo disse querer lançar neste ano, que poderia ter o saldo do FGTS do trabalhador como garantia. As associações do setor imobiliário criticam o uso do fundo para atividades além de infraestrutura e habitação e pedem, há anos, o fim do saque-aniversário do FGTS, modalidade de retirada periódica de recursos do fundo.
A criação do novo consignado já foi vista como uma alternativa que poderia viabilizar o fim do saque-aniversário, mas há o temor de que as duas modalidades co-existam, como defendem entidades do setor bancário, o que poderia acelerar a retirada de dinheiro do FGTS, atrapalhando seu uso como fonte de recursos para o MCMV e para o trabalhador dar a entrada no imóvel.
“Vamos acabar ficando com as duas opções para os trabalhadores”, afirmou Petrucci. “Eu espero estar errado nessa avaliação”.