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28/02/2023

Lançamentos e vendas de imóveis novos caem em 2022 (Valor Econômico)

Recuo nos novos projetos que chegaram ao mercado foi de 8,2%, puxado pela habitação popular

Por Ana Luiza Tieghi 

Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), obtidos em 207 cidades do país, mostram que os lançamentos imobiliários recuaram 8,6% em 2022, sobre o ano anterior. Foram 295,4 mil unidades. As vendas caíram 3,2%, para 304,4 mil unidades.

A queda foi maior no segmento econômico, que envolve os imóveis do Casa Verde e Amarela (atual Minha Casa, Minha Vida). O recuo nos lançamentos econômicos foi de 23,9% no ano, enquanto as vendas caíram 13,5%. Foram lançadas 109,3 mil unidades e vendidas 130,6 mil.

A oferta final de unidades do CVA despencou 32,9% em 2022. No geral dos imóveis novos, a diminuição ficou em 3,4%.

De acordo com a entidade, a redução brusca nos lançamentos e vendas do CVA foi causada pelo descasamento entre o custo de produção desses imóveis, que subiu na pandemia, o valor máximo permitido para a venda das unidades e a renda das famílias. Isso fez com que as incorporadoras optassem por segurar novos projetos. Menos lançamentos puxaram a queda nas vendas.

Houve reajustes no programa a partir de meados de 2022, mas seus resultados chegaram tarde e não foram suficientes para mudar o quadro anual. No quarto trimestre, os lançamentos cresceram 22,1% em relação ao trimestre anterior. As vendas caíram 3,3% no mesmo período.

A situação pode começar a mudar neste ano, com alterações já em curso e com o relançamento do MCMV e as promessas do governo Lula de ampliar a política de habitação popular. No entanto, José Carlos Martins, presidente da Cbic, diz que novas mudanças precisam ocorrer até abril para que surtam efeito antes do fim de 2023.

Para Celso Petrucci, presidente da comissão de indústria imobiliária da entidade, o desempenho do segmento imobiliário de baixa renda “depende mais da reação do governo às necessidades do MCMV do que do próprio mercado”.

Se o governo agir depressa, afirmam os dirigentes, o setor pode repetir o número de unidades lançadas e vendidas em 2022. Se demorar, o mercado imobiliário como um todo pode cair 10% no ano, puxado novamente pela baixa renda.

Entre as medidas que a Cbic considera possíveis estão mudar o teto do valor de venda das unidades em cidades médias e metropolitanas e universalizar o acesso ao financiamento de 35 anos com recursos do FGTS. No ano passado, o prazo, então de 30 anos, foi ampliado, mas a medida só tem atingido clientes com renda maior, afirmam.

Martins também defende melhorias no Fundo Garantidor da Habitação Popular (FGHab), para que pessoas com renda informal possam acessar o programa e comprometer uma parcela maior dos seus rendimentos.

Enquanto há esperança para o segmento econômico, a entidade prevê um ano difícil para os imóveis de médio padrão. O setor depende de financiamento com recursos da poupança (os empréstimos do MCMV são ligados ao FGTS), e a Cbic antevê desempenho pior para essas operações, se comparado com os últimos anos. “As perdas nos saldos da caderneta de poupança farão com que os bancos sejam mais seletivos”, avalia a entidade.

A Cbic ressalta ainda que as taxas de juros estão em viés de alta, por causa dos custos de captação. Com a Selic mantida em 13,75%, a retirada de recursos da poupança deve continuar. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) já disse que 2023 será o “terceiro melhor ano” para o setor, com recuo sobre 2021 e 2022.

O preço médio das unidades novas no país ficou em R$ 146,3 mil em dezembro, ante R$ 131 mil no fi de 2021, alta de 11,6%.

FONTE: VALOR ECONôMICO