O mercado de prédios corporativos na cidade de São Paulo registrou, em 2024, o segundo maior número de locações na história, de acordo com dados da consultoria imobiliária CBRE. O saldo entre áreas locadas e as áreas devolvidas (absorção líquida, no jargão do setor) foi de 354 mil m² em 2024, um salto de 90% (quase o dobro) na comparação com 2023, segundo a CBRE. Já a área total locada (absorção bruta) chegou a 872 mil m², aumento mais discreto, de 4%.
O crescimento da economia brasileira ajudou a encorpar a demanda de empresas por mais área para suas atividades. Entretanto, o principal fator foi o retorno das empresas de grande porte ao trabalho presencial, afirma o diretor de Locação e Pesquisa da CBRE, Felipe Giuliano. “As empresas grandes, que demandam muita área, voltaram a trabalhar em um modelo presencial durante quase toda a semana. Na maioria das vezes, estão indo ao escritório de três a cinco dias por semana”, relata Giuliano.
As empresas pequenas e médias já tinham voltado aos escritórios, mas a maioria das grandes demorou para convocar seus funcionários de volta. Algumas corporações haviam devolvido andares inteiros um tempo atrás e agora precisaram encontrar novos espaços. “A economia ajudou um pouco, mas não foi o fator principal. A volta à rotina presencial foi mais importante”, aponta Giuliano. A XP, por exemplo comunicou recentemente que passará a ocupar 12 mil m² no Edifício Luna, na Chácara Santo Antônio, e que deseja ter ‘mais interações presenciais’.
Mais espaço para os trabalhadores
A pesquisa da CBRE mostrou ainda uma mudança na configuração dos escritórios, que ficaram mais ‘espaçosos’. Antes da pandemia, cada trabalhador e sua estação de trabalho ocupavam, em média 7 m². Hoje, isso está em 12 m², com intuito de evitar aglomeração. “As empresas precisam ter escritórios mais convidativos. Senão, as pessoas não voltam ao trabalho presencial”, diz o diretor da consultoria.
Por fim, o levantamento apontou redução de 20% nas devoluções, que geralmente são motivadas por rescisão ou não renovação dos contratos de aluguel - aí, sim, um sinal importante de confiança das empresas.
Com mais locações, houve redução dos espaços vagos e subidas nos preços do aluguel. A vacância média na cidade de São Paulo caiu de 20,9% em 2023 para 18,9% em 2024. O mercado ainda está longe do equilíbrio, que fica na faixa dos 10% a 12%. Ou seja, está mais vantajoso para quem aluga e barganha. Menos na Faria Lima, região mais procurada da cidade. Ali, a vacância está em 6%, e os preços de locação em alta.
Preços subiram
Os preços mensais de aluguel pedidos pelos proprietários no fim de 2024 foram a R$ 108/m², levemente acima do fim de 2023, quando estavam em R$ 104/m², segundo a CBRE. Já na Faria Lima, há alguns casos em que os donos dos imóveis pedem até R$ 330/m². Há quem pague e outros que se mudam.
Quem está ‘se dando bem nessa história’ são os prédios da Chucri Zaidan, prolongamento da Faria Lima. Essa região ganhou diversos empreendimentos na última década, mas a crise de 2015 e 2016 e a pandemia em 2020 e 2021 deixaram esses imóveis vazios por muito tempo. Agora esse quadro está virando.
A vacância na Chucri Zaidan caiu para 21,3% no fim de 2024, patamar acima da média da cidade, mas bem abaixo do nível de 30% visto dois anos antes. “Quem não aceita pagar o que está sendo cobrado na Faria Lima, Rebouças e Pinheiros está indo para os lados da Marginal, principalmente para a Chucri Zaidan”, aponta o diretor da CBRE.
Desempenho deve se manter no 1º semestre
Para 2025, a expectativa é que as empresas continuem fechando novos contratos de locação e reduzindo a vacância dos escritórios na cidade de São Paulo como um todo, ao menos ao longo do primeiro semestre. Já na segunda metade do ano, o risco é que a subida dos juros e a volatilidade cambial acabe freando os investimentos, pondera Giuliano.
“Para o mercado continuar crescendo mais para frente, aí vai depender mesmo de um bom desempenho da economia brasileira”, diz.