A MRV respondeu nesta sexta-feira, 15, uma dúvida que vinha chacoalhando os papéis da empresa desde o início do ano. A empresa revisou para baixo suas projeções (guidance) da MRV Incorporação para 2024 e 2025, concretizando o que já vinha sendo antecipado nas ações.
O guidance do lucro para 2025 caiu de uma janela de R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão para outra mais baixa, de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões. A projeção de margem bruta, por sua vez, deve ficar entre 29,5% e 31% em 2025 – e não mais em 30% e 33%.
“Continuamos com um desafio de geração de caixa. Vamos construir menos unidades do que havíamos previsto, por isso estamos revisando o guidance para baixo em margem bruta e lucro”, afirmou Ricardo Paixão, CFO do grupo, em coletiva após o MRV Day, encontro anual da empresa com analistas e investidores.
Apesar da revisão, a mensagem da companhia foi de retomada do protagonismo. “Os indicadores operacionais voltaram para um patamar pré-covid, e agora estamos com a operação mais estabilizada. A empresa voltará, em muito pouco tempo, a apresentar indicadores financeiros diferenciados. E voltará a ser a maior e melhor empresa do setor de construção do Brasil”, afirmou Rafael Menin, CEO da companhia, na abertura do MRV Day.
O caminho para alcançar um patamar “maior e melhor” passa por ficar mais leve. Na incorporação brasileira, a empresa vai reduzir gradativamente a quantidade de cidades em que atua. O processo, que começou há dois anos, já cortou de 120 para 100 as localidades de atuação da MRV. Para os próximos três anos, a meta é reduzir para 80 cidades.
“Continuaremos sendo – disparado – a empresa mais exposta a um mercado nacional que é muito demandante. Estamos escolhendo as praças mais aderentes ao nosso modelo de negócio”, disse Menin.
Separação da Resia
O grande destaque, no entanto, ficou com as subsidiárias. A MRV reforçou que deixou para traz o viés expansionista e que o foco é rentabilizar todas as linhas de negócio. A missão das subsidiárias Luggo (locação) e Urba (loteamento) para este ano é trazer geração de caixa positiva e lucro neutro. No caso da Resia, subsidiária de locação nos Estados Unidos, o objetivo é não queimar queixa.
A Resia tem sido um dos pontos de atenção do portfólio da MRV, especialmente pelo cenário de juros altos nos EUA que prejudica as operações da empresa. Menin destacou que a Resia tem um potencial de destravar valor “enorme”, que pode ser acionado com a tendência de queda de juros no externo.
Enquanto o cenário não muda, a MRV estuda uma saída para a subsidiária. A companhia anunciou que pretende separar a operação da Resia da incorporação brasileira. A construtora, no entanto, não deu detalhes de como o processo deve ser feito – nem quando a intenção deve sair do papel.
“Existem vários caminhos. O que podemos adiantar é que existe uma direção clara: vamos separar as duas companhias”, reforçou Paixão.
Impacto nas ações
As ações da MRV (MRVE3) acumulam queda de 23% no ano, acompanhando a incerteza dos investidores sobre as projeções da companhia. A expectativa da administração é que os dados apresentados hoje possam trazer mais clareza sobre os próximos passos da construtora.
“O mercado vem muito sensível no curto prazo e tem sido menos impactado pela mudança operacional no horizonte mais longo. Ainda assim, já estamos vendo nosso papel menos volátil. Gastamos muita sola de sapato para nivelar as informações de estratégia e vamos ter paciência e resiliência para continuar entregando resultados”, concluiu Menin. “Certamente a ação vai refletir esse projeto que foi anunciado no MRV Day.”
Após o anúncio da revisão do guidance, os papéis da MRV, que subiam até 3% na máxima, perderam força e fecharam em leve alta de 0,12%.