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05/04/2022

Mais da metade dos grandes bancos chineses reduziu empréstimos ao setor imobiliário

Mais da metade dos principais bancos da China reduziu sua exposição ao setor imobiliário no ano passado, em uma tendência que provavelmente trará mais aperto de caixa para incorporadoras com problemas. 

Os empréstimos pendentes para a indústria diminuíram no fim de 2021 em relação ao ano anterior em 17 dos 32 principais bancos listados na bolsa de valores de Hong Kong. Eles incluem o China Citic Bank e o China Minsheng Bank, o maior banco privado do país. 

O Shengjing Bank, do qual a endividada Evergrande é um dos principais acionistas, reduziu os empréstimos para desenvolvedores depois de quase dobrar em 2020. 

Os bancos regionais recuaram de forma especialmente acentuada, como o China Bohai Bank, com sede em Tianjin, que registrou uma queda de 32%. O total de empréstimos ao setor nos quatro grandes bancos estatais da China aumentou 4,9%, muito menos do que seus empréstimos gerais e uma forte desaceleração em relação aos saltos de dois dígitos entre 2017 e 2020.

À medida que mais empréstimos imobiliários estão sob risco, as instituições financeiras buscam reduzir a exposição, deixando as empresas imobiliárias com ainda menos opções de capitalização. Os bancos também estão cautelosos com os esforços de Pequim para conter um mercado grande o suficiente para trazer riscos sistêmicos. 

As autoridades chinesas começaram a fechar a torneira do crédito para as incorporadoras a partir de 2020, estabelecendo três "linhas vermelhas". Naquele verão, desencorajou-se empréstimos a empresas financeiramente insalubres. Os limites ao crédito hipotecário e à exposição ao setor imobiliário foram introduzidos no ano seguinte. 

As tribulações do setor pesaram sobre instituições como o Minsheng, grande credor da Evergrande, cujas ações despencaram no ano passado em meio à crise da dívida da incorporadora. Os bancos estão examinando financiamentos mais de perto devido à crescente preocupação de que algumas incorporadoras possam estar sobrecarregadas com grandes "dívidas ocultas", não mostradas em seus balanços. 

O Minsheng informou em seu anúncio de resultados para 2021 que "implementou estritamente os requisitos regulatórios" para o setor imobiliário e melhorou "a capacidade de gerenciamento de crédito de todo o processo". 

O China Everbright Bank, cujos empréstimos imobiliários caíram 12% no ano passado, enfatizou que "aderiu ao princípio geral de 'a moradia é para morar, não para especular'" e intensificou o monitoramento de como os empréstimos são usados. 

Os riscos do setor imobiliário refletem-se no aumento da inadimplência. Nos quatro grandes bancos, o índice de empréstimos inadimplentes para financiamento imobiliário subiu mais de um ponto percentual, para 3,8%, no ano passado, mesmo com uma ligeira melhora no número geral de inadimplência. Alguns bancos menores se saíram muito pior, como o Jinshang Bank, na província de Shanxi, cujo índice de empréstimos imobiliários inadimplentes superou 10%. 

Os credores devem permanecer cautelosos sobre os empréstimos imobiliários este ano. Embora algumas autoridades locais tenham começado a relaxar as restrições às hipotecas para pessoas físicas em resposta à queda do mercado imobiliário, as regras mais duras impostas aos desenvolvedores continuam em vigor. 

O diretor de risco do Banco da China, Liu Jiandong, disse em uma teleconferência de resultados que o banco presta “atenção especial” aos riscos regionais em setores-chave, observando especificamente que “alguns desenvolvedores imobiliários podem ter problemas de fluxo de caixa”. 

Os riscos imobiliários são "gerenciáveis", mas "os bancos precisam diversificar" suas carteiras de empréstimos além do setor imobiliário, disse Banny Lam, chefe de pesquisa do CEB International Investment em Hong Kong. 

Enquanto isso, as incorporadoras sem dinheiro agora enfrentam um ambiente de captação de recursos ainda mais difícil. O caixa total levantado por 100 grandes incorporadoras, incluindo empréstimos bancários e dívida corporativa, caiu 59% no ano, para 39,8 bilhões de yuans (US$ 6,24 bilhões) em fevereiro, segundo a China Real Estate Information. 

"As condições de financiamento apertadas e as consideráveis necessidades de refinanciamento das empresas imobiliárias chinesas vão pressionar a sua liquidez e aumentar o número de calotes para o resto de 2022", disse a Moody's Investors Service no mês passado.

(Matéria publicada em 05/04/2022)

FONTE: VALOR ECONôMICO