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12/02/2017

Mais de 7,5 mil imóveis do ‘Minha casa’ estão prontos e vazios no Rio

Somando todos os empreendimentos previstos na cidade até o fim do ano, o número aumenta: a prefeitura não tem dados suficientes sobre os interessados em ocupar nove mil imóveis.

Mais de 7.500 unidades habitacionais de 22 empreendimentos do “Minha casa, minha vida” já estão prontas no Rio — mas ainda vazias —, por inconsistências de dados ou falta de cadastros sociais de famílias interessadas, com renda de até R$ 1.800, que compõem a chamada faixa 1 do programa habitacional. São cinco mil moradias sob a responsabilidade da Caixa e 2.592 a cargo do Banco do Brasil. A situação mais crítica é verificada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Somando todos os empreendimentos previstos na cidade até o fim do ano, o número aumenta: a prefeitura não tem dados suficientes sobre os interessados em ocupar nove mil imóveis.

Os registros se perderam na transição da administração passada para a atual. Os 1.440 imóveis da primeira fase do Residencial Parque Guandu, por exemplo, estão prontos. Mas as famílias já selecionadas não podem fazer a mudança até o preenchimento de 488 vagas cujos cadastros foram reprovados pelo Banco do Brasil, agente financiador do projeto. A prefeitura não tem inscrições que poderiam ser usadas como reserva, convocando novos interessados. O déficit habitacional na cidade é de 60 mil moradias.

A situação é a mesma do salgadeiro Luis Henrique Vieira de Souza, de 51. Ele chegou a comprar móveis novos para fazer a mudança, mas perdeu os armários e o guarda-roupa após uma ventania que destelhou a casa da mãe, onde vive com o enteado:

— É uma luta fazer a inscrição. Estou há mais de quatro anos esperando minha casa.

As prefeituras de Nova Iguaçu e Japeri organizam uma força-tarefa para organizar o recadastramento das famílias de pequeno poder aquisitivo (renda bruta mensal de até R$ 1.800), interessadas na casa própria. Na primeira cidade, a Procuradoria do Município informou que vai entrar com uma ação civil pública contra a gestão anterior, em função do desaparecimento dos dados dos cadastrados.

— Não houve transição. Chegamos e não havia sequer mesas, cadeiras e computadores para trabalhar. É uma das coisas mais absurdas que já vi. As pessoas precisando, sem ter onde morar, e não há cadastros. O pior é que elas têm seus comprovantes de inscrição, mas o município não dispõe dos dados — disse o novo prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa (PR).

Em Japeri, o secretário de Ação Social, Márcio Bibi, alegou que o sorteio feito pela administração anterior não foi transparente. Como algumas inscrições se perderam, ele pretende fazer um mutirão de recadastramento dos interessados:

— Até o próximo dia 20, vamos tentar entregar os documentos à Caixa. Precisamos ir a alguns bairros e montar tendas para agilizar o processo. O sorteio foi tão temerário que sequer um cadastro de reserva foi feito.

Enquanto isso, as edificações prontas e vazias sofrem com o desgaste, castigadas pela ação do tempo. E as construtoras pagam equipes de segurança particular para evitar invasões.

— Os primeiros problemas que devem ser observados pelos condôminos são fissuras ou exposição de ferragens que estejam oxidadas. As tubulações de água, quando estão sem uso, podem sofrer problemas nas juntas — explicou Gilberto Couri, engenheiro civil e conselheiro do Crea-RJ.

Entenda como funcionam as outras faixas - O “Minha casa, minha vida” tem dois grupos com condições diferentes de financiamento, dependendo das rendas familiares. O primeiro é aquele que deve ter rendimento bruto mensal de até R$ 1.800. Neste caso, as inscrições são feitas em prefeituras. O segundo grupo precisa ter ganhos de R$ 1.800 a R$ 9 mil por mês e deve procurar uma construtora, uma agência da Caixa ou um correspondente bancário para fechar o contrato. Para isso, não pode haver financiamento de imóvel no nome do interessado. Ele também não deve ter usado o FGTS nos últimos cinco anos para fins imobiliários nem ter o nome sujo. 

FONTE: O GLOBO