Imóvel novo continua sendo o sonho de muita gente. Mas é no segmento de imóveis usados (também conhecido como mercado secundário ou de terceiros) que a ampla maioria das pessoas realiza o sonho da casa própria.
Embora não tenhamos, ainda, metodologia para apurar com absoluta precisão o desempenho do setor de imóveis usados, é possível chegar a alguns números com base em dados históricos de outros mercados, como Estados Unidos e Espanha. Nesses países, a cada imóvel novo vendido, de seis a sete são comercializados no segmento de terceiros.
Se essas mesmas estatísticas espelharem a realidade da capital paulista, podemos afirmar que, em 2016, as imobiliárias que operam com imóveis usados efetuaram mais de 120 mil transações de compra e venda. Um número nada desprezível, uma vez que os imóveis novos devem ter encerrado o ano passado (balanço ainda não fechado) com cerca de 16 mil unidades residenciais vendidas.
Um dos elementos motriz desse desempenho, sem dúvida, é o crédito imobiliário, cujas projeções para este ano que vem são de leve alta.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), em 2017, a liberação de crédito para o financiamento à comercialização e à construção de imóveis deverá ficar entre R$ 45 bilhões e R$ 50 bilhões. O volume é até 11% superior ao desempenho de 2016, ainda segundo a associação.
Todos os dados computam apenas os recursos liberados pelo sistema SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), ou seja, das cadernetas de poupança. Operações feitas com Fundo de Garantia estão fora da conta.
Dentre as razões para essas estimativas, destaca-se o prognóstico de que a taxa básica de juros continuará em queda. Se a Selic baixar a 11% ao ano, conforme preveem especialistas, os bancos ganharão fôlego para captar mais dinheiro para as cadernetas de poupança e repassar recursos a juros menores nos financiamentos imobiliários. Isso é salutar, uma vez que é o crédito imobiliário que abre os horizontes para que muitas pessoas adquiram sua moradia.
Para quem empreende no mercado imobiliário e para quem pretende comprar imóvel, é uma boa notícia, depois de dois anos consecutivos de queda no volume de crédito concedido. Mais: recursos abundantes para financiamento também impactam uma imensa maioria de pessoas que precisam vender seus imóveis para adquirir outra residência, ou investir no negócio próprio, ou educar os filhos...
É importante frisar que temos margem para a expansão do crédito imobiliário. Traçando um paralelo com a realidade de outros países no que se refere à participação dos financiamentos imobiliários em relação ao PIB, no Brasil, em 2015, essa relação foi de 9,8%. Nos Estados Unidos, quase chega a 70%. No Reino Unido, é de 75%. No nosso vizinho Chile, alcança 20%.
Ressalte-se, ainda, o nível de inadimplência do crédito imobiliário. Atualmente, gira em torno de 2%, o menor patamar em comparação a outras linhas de financiamentos bancários - como automotivos e crédito pessoal - e cartões de crédito.
Mais crédito para financiar a compra de mais imóveis - novos ou usados - é fator relevante na atual conjuntura econômica. Se você comprar um imóvel, por exemplo, automaticamente estará gerando renda e emprego em setores como decoração, arquitetura, pintura, segurança, limpeza...
Recursos utilizados em transações imobiliárias desaguam em dezenas de outros mercados.
Para que essa realidade atinja maiores e melhores índices no curto e médio prazo, a redução dos juros é a saída que se demonstra mais viável. Se as projeções da Abecip se confirmarem em 2017, pelo menos poderemos iniciar este ano com bons agouros - ainda que tímidos.