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17/03/2022

Mercado aposta em altas da Selic até junho

Para analistas, possibilidade do ciclo se estender e ir além de 12,75% aumentou após decisão desta quarta-feira

O Banco Central (BC) acenou com uma política monetária ainda mais contracionista para combater o choque de commodities, em linha com o que economistas de mercado haviam embutido em seus cenários nos últimos dias. Essa percepção ganhou força depois do colegiado ter aumentado a taxa em 1 ponto e sinalizado aperto de igual magnitude em maio, segundo especialistas ouvidos pelo Valor.

. “A gente esperava que, diante desse novo choque inflacionário com a guerra na Ucrânia, o BC deveria reagir com um discurso mais contracionista. E foi isso que ele fez, dando uma alta de 1 ponto e já se comprometendo com mais 1 ponto em maio”, diz o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani. Ele vê a projeção de Selic de 13,25% do banco compatível com a comunicação do BC, com fim de ciclo em junho.

Para Padovani, o BC adotou um discurso mais conservador ao enfatizar que o ciclo de alta da Selic deve seguir adentrando o terreno “significativamente contracionista” e que a autoridade persistirá na estratégia até obter a desinflação e a reancoragem das expectativas inflacionárias.

O economista observa também que o BC “deixou a porta aberta para adotar mais altas de juros ainda se for preciso, caso o volátil cenário de preços de commodities se deteriore”.

A sinalização de uma nova alta de 1 ponto no próximo Copom surpreendeu o economista-chefe do SulAmérica Seguros, Newton Rosa. “Achava que poderia vir uma desaceleração de ritmo para maio e que, se viesse, provavelmente o ciclo acabaria na próxima reunião”, diz. “Agora já estamos falando de um ciclo que pode ir até junho.”

A projeção oficial da SulAmérica é de Selic terminal de 12,5%, mas com a taxa indo a 12,75% já em maio o cenário será alterado, diz Rosa. “Mas não vejo espaço para juro muito maior que isso. O ciclo deve ser um pouco mais extenso, mas já está em um estágio adiantado”, pondera.

 

O sócio e economista da Kairós Capital, Marco Maciel, diz que o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe projeções de inflação influenciadas pela guerra na Ucrânia, que fizeram a gestora elevar a estimativa de Selic para 13,75%. Ele espera que o comitê feche o ciclo de aperto com alta de 1 ponto também em junho.

“A inflação deste ano já foi. O Copom está pensando no próximo, então o movimento de hoje já estava dado”, aponta Maciel. “O que o mercado ainda não precificou é uma possível piora da inflação do ano que vem, que pode manter a Selic em 13,75% por mais tempo.”

Logo após a decisão, o J.P. Morgan alterou seu cenário e elevou a projeção da Selic de 12,75% para 13,25% no fim do ciclo. “Considerando que esperamos uma inflação de 6,5% no fim do ano - acima do cenário alternativo do BC - e, mais importante, nossas projeções de inflação acima do consenso para os próximos meses, em especial até abril, julgamos que o ciclo não vai parar em maio”, dizem, em relatório, os economistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira.

Por outro lado, o economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca, espera que o ciclo se encerre já na próxima reunião, com uma alta de 1 ponto da Selic. O cenário básico dele contemplava, anteriormente, um aumento final de 0,5 ponto em junho. “Depois desse comunicado, essa última alta de 0,5 ponto fica em xeque. O comunicado trouxe indicação muito forte de que o Copom pretende encerrar, se possível, o ciclo de alta na próxima reunião”, diz.

De acordo com Fonseca, a hipótese de recuo dos preços do petróleo, a taxa de juros embutida nos cenários que faz a convergência da inflação e o fato de os riscos de alta para a inflação já estarem bastante contemplados no cenário básico sustentam a perspectiva de fim de ciclo na próxima decisão do Copom.

Matéria publicada em 17/03/2022

FONTE: VALOR ECONôMICO