O desempenho do mercado imobiliário de alto padrão neste ano não deverá ser afetado pelos fatores que sinalizam uma conjuntura de desaceleração econômica até o terceiro trimestre, como juros altos, aumento da inflação e eleições. O segmento residencial — que registrou um crescimento histórico de 226% em lançamentos no ano passado na comparação com 2020, de acordo com o resultado anual do Indicador Abrainc-Fipe — vai se manter em alta, embora com um ritmo menos acelerado, avaliam empresários e analistas do setor imobiliário.
As expectativas favoráveis a lançamentos e aquisição de terrenos, aferidas pela quarta edição do Indicador de Confiança do setor imobiliário residencial, são uma excelente sinalização de crescimento para o setor, na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França. “Os indicadores mostram que os empresários esperam manter o ritmo dos negócios em vez de reduzi-lo, apesar da cautela exigida pelo momento econômico”, afirma.
França argumenta que a expectativa de elevação de preços dos imóveis deve aquecer o mercado e trazer mais oportunidades — especialmente porque os valores cobrados pelo metro quadrado no Brasil estão bem abaixo dos níveis de preços praticados no mercado internacional. “A tendência é de valorização, a exemplo do que ocorreu nos últimos anos em alguns importantes bairros da cidade de São Paulo. No período de dez a 15 anos, um imóvel adquirido por algo como R$ 8 mil o metro quadrado hoje está com a metragem avalia-da em R$ 50 mil”, compara.
A análise consensual é que a demanda por imóveis de luxo é inelástica, e que o desejo por mais conforto, espaço e praticidade, despertados a partir do isolamento social imposto pela pandemia, mantém-se como mola propulsora da excelente performance da incorporação imobiliária de alta renda. “O que pode ocorrer, sim, é uma redução da procura por imóveis com perfil de investimento. Mas, dentro de perfil residencial com objetivo de moradia, a demanda por projetos luxuosos deverá continuar forte ao longo deste ano”, avalia o sócio-diretor da Inti Empreendimentos, André Kiffer.
Segundo ele, principalmente porque a decisão de compra pelo cliente potencial no segmento de alto padrão não é influenciada por variações de ordem conjuntural, como a realização de eleições, aumento dos índices de inflação, alta de juros e revisão de expectativa do PIB para baixo.
O analista-chefe do Setor Real Estate na XP, Ygor Altero, destaca a resiliência do mercado de alta renda, concordando ainda que a decisão de compra por parte dos clientes mais sofisticados independe dos desdobramentos da política econômica do país. “Isso ocorre desde que o consumidor identifique no produto um maior valor agregado, como de fato vem ocorrendo com o lançamento de empreendimentos de altíssimo padrão e projetos diferenciados”, diz ele.
Sylvio Pinheiro, diretor da G+P Soluções, também aposta na manutenção da curva de crescimento do segmento de imóveis de alto padrão ao longo deste ano. “O mercado de luxo tem crescido no mundo inteiro em todos os setores. De bebidas a carros, de roupas a mansões, o mundo nunca consumiu tanto. Entendo que o mercado imobiliário continuará a crescer no Brasil”, conclui.
A expectativa da diretora da Precisão Empreendimentos Imobiliários, Sonia Chalfin, é de forte tendência de crescimento nos próximos meses. “Crescemos 35% no ano passado na comparação com 2020, mesmo com a pandemia. Foi um crescimento substancial diante do cenário que estamos atravessando. E, para este ano, as projeções estão ainda mais ousadas. Queremos focar mais em imóveis no Leblon (Zona Sul do Rio de Janeiro) e no entorno do bairro, além de abrir mais uma filial”, diz ela.
No ano passado, vendas no segmento aumentaram 21%
Dados apurados junto a 55 construtoras e incorporadoras revelam que a procura por imóveis no quarto trimestre de 2021 foi mantida após leve retração no período anterior
Com um crescimento histórico de 226%, os lançamentos no segmento residencial de médio e alto padrão (MAP) ao longo de 2021 somaram 64.505 unidades. Em termos de vendas, 27.937 imóveis foram comercializados no ano passado, com alta de 21% em comparação ao balanço de 2020.
Os resultados constam da quarta edição do Indicador de Confiança do setor imobiliário residencial, realizado pela Abrainc em parceria com a Deloitte. A pesquisa revela ainda que os preços aumentaram no quarto trimestre do ano passado, mantendo a tendência de alta, que pode ainda ser reflexo de custo e de certa manutenção na procura por imóveis.
Apesar da cautela em relação às vendas, o segmento deve seguir com o planejamento para os lançamentos em 2022. Os dados apurados entre 20 de janeiro e 13 de fevereiro, junto a 55 empresas construtoras e incorporadoras, revelam também que no quarto trimestre do ano a demanda geral da procura de imóveis foi mantida após leve retração no período anterior.
No acumulado do ano, os lançamentos e vendas cresceram acima das séries históricas, o que sinaliza o bom desempenho das incorporadoras. “O setor representa uma grande porta de entrada para o mercado de trabalho e é hoje responsável por cerca de 9% dos empregos gerados no Brasil, é um dos protagonistas no processo de recuperação econômica brasileira, mantendo-se resiliente”, afirma Luiz França.
(Matéria publicada em 01/04/2022)