Estudo da empresa de consultoria imobiliária Cushman & Wakefield aponta que o terceiro trimestre de 2016 se encerrou com vacância de salas comerciais de 27,9% para o mercado Classe AA+ variando 0,9 ponto porcentual em relação ao trimestre anterior.
Assim, a área total disponível de escritórios de alto padrão é de 788 mil metros quadrados somente na região chamada pela empresa de Central District Building (CDB), que engloba as áreas onde se concentram escritórios com a região da Berrini, da Faria Lima, da Paulista e parte de Pinheiros, entre outras.
O aumento do indicador durante esse trimestre se deu em grande parte pela entrada de novo estoque desocupado no mercado, segundo a pesquisa. No período, as entregas de empreendimentos de alto padrão no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital de São Paulo, também fez o estoque crescer.
Diante desse quadro, e em tempos de Uber e Airbnb, quem tem salas em estoque começa a olhar para o mercado de espaços compartilhados. “O que percebemos é que empresários que têm prédios comerciais disponíveis estão começando a olhar para esse negócio, principalmente porque a oferta de salas comerciais vagas ainda está alta na capital”, diz o diretor da empresa de escritórios compartilhados Sharing EC, Matias Sebastian Vazquez.
Com a expansão desse mercado, o investidor imobiliário monta uma unidade de acordo com as especificações de uma empresa como a Sharing, em relação à design, tecnologia, mobiliário, etc. E essa companhia administra o espaço para o investidor. Desta maneira, o resultado do empreendimento é do investidor, e a Sharing cobra apenas uma taxa pela administração.
O vice-presidente de gestão patrimonial e locação do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Rolando Mifano, afirma que a criação de escritórios compartilhados pode sim ser uma alternativa para os investidores que estão com muitas salas comerciais para alugar.
Tendência - Presidente da administradora de condomínios Habitacional, Fernando Fornícola vai além e diz que o compartilhamento de espaços é uma tendência que veio para ficar. “Estamos vendo projetos de construtoras de prédios para médicos, por exemplo. A empresa faz conjuntos de 15 metros quadrados e a área comum é compartilhada por todos os conjuntos: sala de espera, banheiro, copa etc.”
Ele cita como exemplo o caso hipotético de um dentista. “Geralmente ele aluga uma sala de 40 m² com banheiro e copa e cria uma recepção para a secretária. Se ele usar a estrutura compartilhada, seu custo cairá muito, já que todos profissionais dividirão os custos comuns.”
De acordo com empresários que atuam na área, a demanda por esses espaços vem crescendo na capital de São Paulo. Apesar de não haver números oficiais, afirmam que a procura é grande e que planejam continuar investindo na abertura de mais ambientes desse tipo.
Há cinco anos, a Sharing oferece espaços compartilhados em um prédio de quatro andares e lançou outro de 10 andares, em outubro. Cinco pavimentos já estão em funcionamento, e os demais serão inaugurados em agosto deste ano. Os dois empreendimentos estão localizados em Pinheiros.
Segundo Vazquez, a demanda por esses espaços compartilhados vem crescendo e a empresa já está em negociação para estruturar mais dois prédios e oferecer o serviço a partir do ano que vem. A ofertas de espaço na Sharing vai de R$ 399 a R$ 1.899 para uma sala privativa para até duas pessoas. O contrato inclui serviço de copa (café, chá e biscoito), limpeza, impressão, internet, bicicletário e vestiário com ducha.
O prédio de 10 andares é segmentado, ou seja, cada andar atende um nicho de mercado. Há espaços para coworking com máquina de costura industrial, estúdio para a produção de fotos e vídeos, com foco, principalmente, na produção de conteúdo para bloggers e youtubers. Há, ainda, auditório para até 100 pessoas, salas para descanso e salas utilizadas por universidades para realizar vários projetos.
A Place2Work tem um coworking com 11 andares que juntos somam 1.500 espaços em salas e estações compartilhadas. As salas de trabalho atendem duas, quatro, seis ou 20 pessoas. Segundo o diretor da companhia, Arnaldo Kochen, cada usuário tem uma estação fixa, mas ela fica em uma mesa grande que ele usa junto com outras pessoas.
O preço de uma estação é de R$ 1.200 por mês e o das salas sai por R$ 2.600 (duas pessoas), R$ 5.200 (quatro pessoas) a R$ 21 (20 pessoas). A estrutura inclui salas de reunião, recepção com atendimento, internet de última geração, sistema telefônico, mobília, videoconferência nas salas de reunião, café, água. O aluguel de sala de reunião avulsa é de R$ 40 a hora.
Kochen afirma que passou de três espaços, em 2015, para 11, em 2016. Desse total, sete estão em operação e quatro em fase de finalização. A expectativa é chegar a 20 até o fim 2017.
Restrições. No entanto, o vice-presidente do Secovi e especialistas da área ressaltam que não é em qualquer espaço que pode ser construído esse tipo de ambiente. Em andares de até 100 metros quadrado, por exemplo, é preciso fazer uma avaliação criteriosa acerca da viabilidade, já que esse tipo de espaço oferece uma série de serviços como internet, telefone, copa, limpeza etc. e poucas estações de trabalho podem não pagar pelo serviço.
“Não dá pra fazer em qualquer espaço. É preciso ter, no mínimo, 800 m². Para ambientes menores do que este o orçamento fica inviável”, argumenta Kochen. Ele diz que costuma transformar em áreas de coworking andares inteiros, de prédios novos ou antigos.
O gerente de pesquisas da Cushman & Wakefield, Gustavo Garcia, concorda com Kochen e Mifano. “Para abrigar um empreendimento de coworking, o ambiente precisa ser moderno e oferecer uma grande infraestrutura. Além disso, não é em qualquer região que esse tipo de serviço pode ser oferecido com sucesso.” Segundo Garcia, as localizações ideais para esse tipo de empreendimento são: Avenida Faria Lima, a região da Avenida Paulista e em ruas dos Jardins.