O mercado paulistano de terrenos para empreendimentos dos padrões médio e alto segue pouco líquido e não se espera que a reabertura dos estandes de vendas dos projetos residenciais, no último dia 10, se reflita em crescimento relevante das negociações de áreas no curto prazo. Desde abril, houve forte queda do fechamento de negócios de compra e venda da principal matéria-prima do setor imobiliário devido à suspensão dos lançamentos destinados às rendas média e alta e ao aumento da preocupação das incorporadoras com a preservação do caixa neste cenário de crise decorrente da pandemia de covid-19.
Os preços dos terrenos se estabilizaram em patamar considerado elevado, e há desencontro de expectativas de valores por parte de compradores e vendedores. “O comprador não aumenta o preço, e o vendedor não reduz. Pensamos que iria haver liquidação de terrenos e, no final, não sai negócio. Nossa última compra foi fechada no início de março”, diz um executivo que pediu para não ser identificado.
Na avaliação de Ronny Lopes, sócio da Arquimóvel, empresa que representa incorporadoras na aquisição de terrenos, existe interesse por aquisições de áreas, mas os prazos para a conclusão das compras foram alongados. “Em média, uma opção de compra tinha 60 dias para ser exercida. Desde abril, o prazo tem sido de 90 a 120 dias”, diz Lopes. Segundo ele, os proprietários de terrenos ainda estão relutantes em reduzir os valores pedidos. “Mas quem precisar vender áreas vai ter de baixar os valores de comercialização”, afirma o sócio da Arquimóvel.
A Trisul não tem obtido “descontos significativos” na compra de terrenos, mas percebe maior abertura dos proprietários para parcelamentos e prazos de opções mais longos, segundo o presidente, Jorge Cury. Segundo ele, a incorporadora continua ativa na procura de novas áreas, nas zonas Sul e Oeste de São Paulo, para projetos dos padrões médio e alto. A Trisul tem banco de terrenos com Valor Geral de Vendas (VGV) superior a R$ 4 bilhões e opções de compra de áreas com VGV potencial acima de R$ 1,5 bilhão.
De acordo com Pablo Meira Queiroz, do escritório Tozzini Freire Advogados, boa parte dos negócios que têm sido fechados tiveram os preços “alinhavados” antes da quarentena. “As aquisições novas estão mais lentas”, diz. O advogado afirma que, ao ficarem mais seletivas para a definição de projetos, as incorporadoras “perderam a pressa” para o fechamento de compras de áreas. “Se a reabertura dos estandes resultar em velocidade maior de vendas, a aquisição de terrenos poderá ser acelerada, mas não vejo nenhuma mudança brusca de curto prazo”, diz Queiroz.
O presidente da Trisul avalia que há expectativa do aquecimento das vendas e da movimentação nos estandes, além de melhora da confiança dos consumidores e do mercado em geral. “E o mercado de terrenos está inserido nesse contexto”, diz Cury.
O diretor técnico da rede de imobiliárias Lopes, Cyro Naufel, diz que boa parte das incorporadoras têm dado prioridade à manutenção do caixa, mas há as que pretendem fazer aquisições se tiverem uma oportunidade considerada “muito boa”. Para Naufel, a tendência é que, com a retomada, ainda que parcial, do funcionamento dos estandes de vendas de imóveis, as incorporadoras avaliem como ficará o mercado para então decidirem se aceleram as aquisições de terrenos. “A vontade das incorporadoras é retomar lançamentos em julho”, diz o executivo.
No entendimento do presidente da rede de imobiliárias Brasil Brokers, Claudio Hermolin, a volta dos lançamentos para as rendas média e alta deve ocorrer em agosto. Por enquanto, diz o executivo, o movimento de aquisições de áreas para projetos com esses perfis está “menos intenso” do que o de compras de terrenos para os voltados à baixa renda. Mas o executivo ressalta que, em função do ciclo longo do setor, também tem havido aquisições para projetos dos padrões médio e alto, assim como entrada de pedidos de licenças de projetos junto aos órgãos públicos. “Quem não está comprando está superstocado ou não acredita em retomada no próximo ano.”