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22/03/2019

Mercado espera balanço ruim da Gafisa

A cotação média das ações da Gafisa desde o início da semana passada está em R$ 9,41

O mercado acompanha, passo a passo, quais serão os rumos da Gafisa. A companhia tem endividamento elevado, precisa obter recursos para fazer frente às necessidades de curto prazo e suas principais acionistas - Planner Corretora de Valores e Planner Redwood Asset Management Administração de Recursos - negociam a entrada do investidor Nelson Tanure no capital da incorporadora. Há expectativa, no mercado, que a Gafisa trará, na próxima semana, balanço ruim do quarto trimestre de 2018, impactado por baixas contábeis.

Segundo fonte ouvida pelo Valor, Tanure teria informado às principais acionistas disposição de investir R$ 200 milhões na companhia na operação de aumento de capital. Procurada, a Planner informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não comenta especulações.

"Estou disposto a apoiar e incentivar um aumento de capital, respeitando o direito de preferência de todos os acionistas. A Gafisa precisa de um plano estratégico de longo prazo elaborado por empresa especializada e de primeira linha", disse Tanure ao Valor, por meio de sua assessoria. O investidor não informou quanto pretende aportar na empresa nem o preço por ação ao qual estaria disposto a aderir na capitalização.

Há dúvidas, no mercado, se o empresário fará, de fato, um desembolso da dimensão de R$ 200 milhões. De qualquer forma, de acordo com a fonte, mesmo na totalidade, esses recursos seriam suficientes apenas para um fôlego de curto prazo, mas não resolveriam a situação financeira da incorporadora. Da dívida total de R$ 960 milhões registrada no fim do terceiro trimestre, R$ 706 milhões venciam até setembro de 2020.

Segundo fontes do mercado, a expectativa é que o empresário proponha preço muito abaixo de R$ 9 para entrar na operação. A cotação média das ações da Gafisa desde o início da semana passada está em R$ 9,41.

Há quem entenda como conflito de interesses a situação em que Tanure poderá participar da definição do valor das ações na capitalização caso a chapa que inclui seu nome para o conselho de administração da Gafisa seja eleita em assembleia geral extraordinária (AGE) em 15 de abril.

As principais acionistas da Gafisa propuseram chapa com os nomes de Tanure, Augusto Marques da Cruz Filho, Demian Fiocca, André de Almeida Rodrigues, Roberto Portella, Antonio Carlos Romanoski e Thomas Reichenheim para o conselho a ser eleita na assembleia do dia 15.

Em setembro, antes de o GWI Group - do gestor Mu Hak You - ter assumido a Gafisa, Tanure e representantes da gestão e do conselho da companhia tiveram tratativas sobre sua entrada no capital da companhia, mas as conversas não avançaram.

Na ocasião, Tanure pretendia, segundo o Valor apurou, que a operação incluísse a compra pela Gafisa de imóveis detidos por ele. A ampliação proposta para que a incorporadora passe a atuar também no programa Minha Casa, Minha Vida, em condomínios comerciais e industriais, loteamentos, no mercado imobiliário internacional e em parcerias público-privadas (PPPs) leva à avaliação de que o empresário poderá ter, novamente, a intenção de vender ativos para a empresa.

Desde que assumiu a Gafisa, no fim de setembro, a nova gestão demitiu boa parte da diretoria, reduziu o quadro de funcionários de 740 para 301 pessoas e passou a renegociar contratos com fornecedores. No início de fevereiro, a companhia divulgou que as ações de "otimização de custos" implantadas do início da gestão até aquele momento resultaram em economia total da ordem de R$ 110 milhões por ano.

Procurada, a Gafisa não se manifestou, mas fonte próxima à companhia ressalta que os ajustes foram "duros, mas necessários" e que a empresa está "mais enxuta e leve", com condições de ter sua virada. "Nenhum lançamento foi cancelado, mas postergado. Produtos e preços serão revistos", afirma a fonte.

Em meados do mês passado, o GWI Group deixou de ser o maior acionista da Gafisa. Na ocasião, Planner Corretora e Planner Redwood Asset Management informaram que atingiram, por meio de fundos de investimento, 18,45% do capital da Gafisa. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, foram os próprios donos da Planner que adquiriram essa fatia.

Procurada, a Planner informou que o percentual pertence aos vários fundos de investimentos administrados por ela e pela Planner Redwood Asset Management Administração de Recursos. "Os investidores cotistas desses diversos fundos não são divulgados em respeito ao sigilo bancário", informou em nota.

FONTE: VALOR ECONôMICO