O mercado imobiliário deve ficar estável ou ter um crescimento pequeno em 2024 na comparação com 2023, de acordo com estimativa de representantes do setor. A medida vale tanto para a cidade de São Paulo – onde se concentram os lançamentos e vendas – como para o mercado nacional.
A visão é de que o ambiente econômico é saudável no país, com juros em queda, inflação controlada, desemprego baixo e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – fatores que favorecem as vendas de moradias. Além disso, as novas regras do Minha Casa Minha Vida (MCMV) têm reaquecido o segmento popular, que deve liderar os lançamentos no ano que vem.
“Devemos ter um 2024 muito parecido com 2023, talvez um pouco melhor”, declarou o economista-chefe do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Celso Petrucci. Segundo ele, não há nada neste momento que indique alguma piora nas atividades. “Diferentemente dos anos anteriores, estamos entrando em um novo ano com perspectiva melhor.”
Apesar das turbulências da economia brasileira, o desempenho do mercado imobiliário em 2023 pode ser considerado resiliente, comentou o presidente do Secovi-SP, Ely Werthein. “O ano está terminando de maneira muito superior ao que nós imaginamos que iria acontecer”, disse.
No acumulado dos últimos 12 meses até outubro, as vendas de imóveis residenciais novos na cidade de São Paulo tiveram alta de 8,7%, chegando a 75,8 mil unidades, enquanto os lançamentos sofreram queda de 10,3%, para 73,3 mil unidades, segundo pesquisa do Secovi-SP.
Com mais vendas do que lançamentos, o estoque diminuiu 6,1% em um ano, para 61,4 mil unidades em outubro. Desse total, 35% são unidades na planta, 64% em obras e apenas 1% são moradias recém-construídas. Ou seja: faltam apartamentos novos prontos para morar na capital paulista. Esse fato estimula a subida dos preços, apontou Werthein.
No começo de 2023, o clima era de incerteza sobre os rumos do País devido à troca do governo federal. Já ao longo do ano ficou claro que a economia brasileira como um todo iria crescer mais que o projetado, o que ajudou o mercado imobiliário. “Aquele ciclo negativo começou a se esvair”, frisou Wertheim.
Cenário nacional
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correa, também disse recentemente, em entrevista à imprensa, que espera avanços do mercado imobiliário no ano que vem. “A menos que haja algum fato novo, a expectativa é que o ano que vem seja melhor para mercado”, afirmou.
Ele também concordou que as vendas foram resilientes em 2023 no país como um todo, embora o clima de incertezas do começo do ano tenha feito as incorporadoras reduzirem os lançamentos. No acumulado dos nove primeiros meses de 2023 em comparação com o mesmo intervalo de 2022, os lançamentos diminuíram 16%, para 193,9 mil unidades, enquanto as vendas tiveram baixa de 3%, para 234,9 mil unidades, de acordo com levantamento da CBIC, que abrange 219 cidades.
Nos últimos meses, entretanto, já foi percebido um aumento na confiança dos empresários, com retomada de projetos devido aos incentivos do Minha Casa Minha Vida. As novas regras que entraram em vigor em julho ampliaram os subsídios, reduziram os juros dos financiamentos e ampliaram o limite de preços no programa.
As medidas foram importantes para viabilizar a retoma dos lançamentos, segundo Petrucci. “A participação do Minha Casa Minha Vida nas vendas totais tende a crescer significativamente a partir do quarto trimestre de 2023 e do primeiro trimestre de 2024”, afirmou.
O presidente local da Federação Internacional Imobiliária (Fiabci), Flávio Amary, acredita que o segmento popular terá um peso importante para o setor no próximo ano. “O governo federal está preocupado em retomar o Minha Casa Minha Vida, e as empresas estão preparadas para isso”, afirmou Amary. Ele lembrou ainda que vários alguns Estados, como São Paulo, colocaram de pé programas próprios para subsidiar a aquisição de moradias do MCMV pelas pessoas de baixa renda, o que representa um estímulo adicional para o setor.
Médio e alto padrão
Por sua vez, o mercado imobiliário de médio e alto padrão tende a caminhar mais lentamente devido aos juros altos dos financiamentos. Pela frente, o setor deve se beneficiar do ciclo de redução da Selic, o que deverá se refletir em queda nos juros do crédito habitacional no ano que vem – embora isso deva acontecer só da metade do ano em diante.
“É preciso ter taxas mais baixas para viabilizar a atividade do setor. O lado bom é que temos, hoje, um cenário de queda da Selic”, disse Amary. Ele observou que boa parte das pessoas interessadas na compra de um imóvel ainda deve aguardar a concretização da baixa dos juros na ponta, isto é, no financiamento bancário.
Segundo Petrucci, o financiamento via recursos da poupança é um ponto de atenção para 2024, mas não de preocupação excessiva. Apesar dos saques de recursos da caderneta, ainda há um saldo disponível em níveis considerados saudáveis, na sua avaliação.