Após longos meses em baixa, o mercado imobiliário do Rio de Janeiro deve ganhar fôlego graças a uma série de estímulos do Poder Público. Os incentivos contemplam, principalmente, projetos na construção de empreendimentos no Centro - mas também têm repercussão positiva em outras regiões.
A avaliação é do presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Rio de Janeiro (Sinduscon-RJ), Cláudio Hermolin, ex-CEO da imobiliária Brasil Brokers. “Tem um conjunto de fatores que vai dar um novo horizonte de crescimento para o mercado”, afirma. “Depois de anos, o Rio voltará a ter protagonismo no setor”, diz.
O primeiro marco positivo foi a aprovação da segunda etapa do programa Reviver Centro (PLC 109/2023) este mês na Câmara dos Vereadores. Com ele, as construtoras que erguerem empreendimentos na Praça XV, Castelo e Cinelândia - bairros do centro financeiro do Rio - ganham o direito de construir, sem pagar outorga, 100% da mesma área em outros bairros onde a busca por moradia é mais desejada, como Botafogo e Lagoa. No caso de moradias sociais, o incentivo sobe para 150% da área. Outras área da região central, como Cruz Vermelha, Saara, Praça Tiradentes e Central do Brasil, foram contemplados com o patamar de 60%.
Em 18 meses, 16 prédios residenciais serão lançados no Centro
Pelas estimativas do Sinduscon-RJ, serão lançados 16 prédios residenciais no centro nos próximos 18 meses, totalizando cerca de 2 mil apartamentos, que devem receber 8 mil pessoas. Esse é o número de projetos já licenciados, mas que estavam parados porque as incorporadoras não conseguiam ajustar os preços aos custos. “O programa vai viabilizar investimentos que antes não poderiam ser feitos no centro”, diz Hermolin.
Na primeira etapa do Reviver Centro, foram 800 apartamentos lançados, dos quais 650 já estão vendidos. Dois terços foram para pessoas com renda de até dez salários mínimos. E 82% dos compradores moravam em outras zonas da cidade. “O programa tem tido sucesso em atrair as pessoas de menor poder aquisitivo para o centro. É um ganho de mobilidade enorme, com menos trânsito e menos poluição “, avalia o presidente do Sinduscon-RJ.
Outro fator que ajudará a animar o mercado imobiliário no Rio é o projeto que a prefeitura enviará nos próximos dias para a Câmara com a meta de ampliar a área da Operação Urbana do Porto Maravilha até o bairro de São Cristóvão, na zona Norte. A ideia é expandir o alvo de aplicação dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) - títulos que autorizam a construção acima dos limites originais do terreno - e dar mais opções para novos projetos.
Projeto prevê subsídio adicional do governo estadual
Por fim, a cereja do bolo, segundo Hermolin, é o projeto do Estado do Rio de Janeiro para dar um subsídio adicional para a população de menor renda adquirir uma moradia do Minha Casa Minha Vida. O projeto sairá em moldes semelhantes do Casa Paulista, do Estado de São Paulo, que aporta entre R$ 10 mil e R$ 16 mil para famílias que ganham até R$ 5 mil por mês. No Rio, o subsídio que está sendo planejado deve ser um dos maiores entre os programas estaduais e será anunciado oficialmente nesta semana, durante o evento Rio Construção Summit.
Se surtirem efeito, as medidas vão dar um choque de ânimo aos negócios locais, já que o primeiro semestre foi de baixa para o mercado imobiliário. Os lançamentos na cidade do Rio recuaram 46% em relação ao mesmo período do ano passado, ficando em 5,4 mil unidades. O desempenho foi bem pior que o das capitais vizinhas São Paulo (baixa de 12%) e Belo Horizonte (estável). No caso das vendas no Rio, houve baixa de 7%, para 8,9 mil residências. Já São Paulo teve alta de 5%, e Belo Horizonte, alta de 18%.
Para Hermolin, o Rio sofreu mais pela crise econômica local, combinadas com o histórico recente de escândalos políticos e má gestão pública. “Muitas empresas saíram daqui, em um sinal de que o Rio perdeu a confiança dos investidores. Ele ficou menos atrativo do que outras localidades”, avalia. “Mas com essas mudanças em vista, acredito que os próximos meses já serão bem melhores, e o Rio voltará a ter uma posição de protagonismo”, avalia. Tudo vai depender também da votação do Plano Diretor, que está previsto para ser concluído até novembro. “Esperamos que seja mais progressista, e menos protecionista”, diz Hermolin.