A desaceleração econômica vivida pelo Brasil já deixa seus rastros no mercado imobiliário, que registra queda no número de lançamentos de unidades residenciais e vendas de imóveis comerciais em quase todos os estados. Em função de sua importância para a economia do país, crises imobiliárias acarretam acréscimos nas taxas de desemprego da construção civil. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (Caged), em maio o setor fechou 115.599 postos de trabalho em todo o país.
No que se refere à compra de imóveis, o advogado especialista em Direito Imobiliário Olivar Vitale avalia que o principal motivo para o baixo desempenho do setor é a escassez de crédito imobiliário enfrentada pelo país. “Desde 2006, o Brasil via o seu crédito imobiliário crescer. No ano passado, chegamos inclusive a ter mais dinheiro destinado a crédito imobiliário do que a crédito pessoal”, contextualiza. Mas em tempo de crise econômica, tudo isso muda. Com as recentes altas da taxa Selic, a perda de poder aquisitivo da população e o aumento dos resgates em cadernetas de poupança, os bancos são hoje mais rigorosos na hora de conceder financiamentos.
Vice-presidente administrativo do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio), Ronaldo Coelho Netto concorda: “A procura caiu porque a condição econômica da população é instável, os índices de juros e desemprego aumentaram e a oferta de crédito diminuiu. Isso leva a população a ficar receosa e não investir com muita tranquilidade em imóveis próprios, como vinha fazendo”. Ele ainda ressalta que outros mercados também sofrem as consequências da crise econômica, mas que isso fica mais claro no setor imobiliário, em função de sua ascensão contínua nos últimos quatro anos.
Para Olivar Vitale, hoje em dia o aluguel de um imóvel é mais rentável do que sua compra. O especialista também estima que o preço de compra não acompanhará a queda nos preços de locação, mas “dificilmente terá uma valorização significativa, como aconteceu de 2006 a 2013”.
Dados confirmam adversidades no setor
Segundo dados da Pesquisa do Mercado Imobiliário realizada pelo Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), em maio deste ano houve, na cidade de São Paulo, uma redução de 1,6% na venda de unidades residenciais, em comparação com o mês de abril. Já no que diz respeito a lançamentos, a queda foi de 20,5% em relação ao mês anterior e de 6,9% quando comparado a maio de 2014.
No Rio de Janeiro os residenciais se destacaram, indo de encontro às dificuldades impostas pelo mercado. De acordo com a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), nos quatro primeiros meses de 2014 houve uma alta de 4% nas vendas de imóveis residenciais, em relação ao mesmo período do ano anterior. As unidades comerciais, por outro lado, sofreram redução de 73% no número de vendas. Na opinião de Vitale, isso se deve ao delicado momento econômico, no qual menos empresas são fundadas ou se mantêm abertas.
A inadimplência também cresce, especialmente entre pessoas que compraram imóveis na planta em uma época em que o mercado imobiliário estava se valorizando. De acordo com Vitale, isso acontece porque o Direito de Desistência presente no Código de Defesa do Consumidor garante que o comprador possa desistir da compra, deixando à incorporadora o ônus quase total da transação. Como conseqüência do maior número de inadimplentes, a quantidade de imóveis retomados por bancos também cresce, uma vez que os investidores respondem à desaceleração na economia sendo mais cautelosos em relação a casas e apartamentos leiloados.