O alto nível de inadimplência e a queda na atividade econômica vêm atingindo fortemente o segmento de seguros voltados para a concessão de crédito interno no país. A taxa de perda por crédito concedido nesse tipo de cobertura chegou a 128% entre janeiro e abril deste ano, de acordo com dados da Susep. Isso significa que para cada R$ 100 recebidos em prêmio pelas seguradoras, foram pagos R$ 128 em indenizações. Por outro lado, o seguro de crédito para exportações vem ganhando impulso com a alta do dólar e a recuperação parcial do preço das commodities no mercado internacional.
Com isso, o apetite dos exportadores vem crescendo, o que aumenta a demanda das empresas por coberturas para essas operações. De janeiro a junho deste ano, o valor dos prêmios de exportação arrecadados pela Euler Hermes Seguros de Crédito, subsidiária do grupo Allianz, representou 50% do prêmio total da empresa no país. "É a primeira vez que isso acontece. Historicamente, o volume de prêmios do crédito interno sempre foi superior", diz Marcelo Oliveira, diretor de crédito da Euler no país.
A taxa de perdas da carteira de créditos concedidos para exportação também é menor do que a perda na carteira interna. No primeiro quadrimestre, a taxa de perda em créditos concedidos para exportadores foi de 65%, ou seja, R$ 65 em indenizações contra R$ 100 em prêmios. No entanto, o desempenho não é suficiente para virar o jogo, já que os seguros para exportação são um segmento bem menor do que o de coberturas internas. Até abril, o prêmio das apólices de exportação somava R$ 13,6 milhões contra R$ 212,95 milhões dos seguros de crédito interno.
O seguro de crédito à exportação também ganha impulso adicional com a lei que permite que seguradoras privadas se associem ao governo para cobertura de algumas operações de exportação. A ABGF, seguradora estatal, opera apenas nas faixas não atendidas pelo setor privado: contratos de exportação com mais de dois anos de prazo, ou apólices voltadas para micros e pequenas empresas exportadoras, com faturamento até R$ 90 milhões e vendas de até US$ 3 milhões para o exterior.
"A nova lei vai permitir que a gente atue para cobrir o risco político, em mercados nos quais as seguradoras privadas só têm interesse em cobrir o risco comercial", explica Marcelo Franco, presidente da ABGF. Ele destaca que atuação da estatal segue critérios de mercado. "Não se trata de algum tipo de fomento a fundo perdido. Somos rigorosos na análise de risco".
Para Cristina Salazar, country manager da Cesce Brasil, a nova regra é positiva para o mercado. "Não vai criar um crescimento exponencial, mas vai pode ajudar a abrir novos mercados". Cristina acredita que ainda há muito que desenvolver nesse setor, quando comparamos o mercado brasileiro a outros países. Ela ressalta que, enquanto a relação entre o volume de prêmios das apólices de crédito foi de apenas 0,34% do PIB entre janeiro e setembro de 2015 no Brasil, esse percentual chega a 2,8% no Chile. "Também estamos muito atrás de outros mercados latino-americanos, como Colômbia, México e Argentina". Talvez por isso, o mercado continua a crescer, mesmo em crise. Em 2015, o segmento teve alta de 10%, considerando as apólices de crédito interno e externo, e a expectativa é de uma alta de 10% a 15% este ano. Cristina observa que a crise fez dobrar a procura pelos seguros de crédito interno, mas que isso não se traduz necessariamente em novos negócios.
Já Hugo Carson, responsável pela área de seguro de crédito da AIG Brasil, observa que o varejo é um dos setores mais afetados pelo aperto de crédito. "Por outro lado, tem crescido a demanda dos bancos como forma de buscar proteção contra a alta da inadimplência", explica. Apesar das dificuldades, ele aposta no desenvolvimento do setor. Com 13% do mercado de seguro de crédito no país a AIG teve uma alta de 30% em sua carteira de seguro de crédito em 2015. No setor de exportações, a alta foi ainda maior, chegando a 61,7%.
O desempenho vem sendo conquistado com base em uma análise de risco rigorosa e de uma oferta agressiva. Isso se reflete em uma taxa de perdas de 96%, abaixo da média do mercado. "Nossa política não permite reduzir ou cancelar coberturas na vigência da apólice", explica Carson. O objetivo, segundo ele, é mais qualidade do que quantidade. "Trabalhamos com um horizonte de 10 anos no relacionamento com o cliente".