A demora nas aprovações de projetos, a greve realizada por funcionários da Prefeitura de São Paulo e a liminar que suspendeu por quase três meses o direito de que projetos protocolados antes de a nova Lei de Zoneamento da capital paulista ter entrado em vigor pudessem seguir as regras antigas levaram a Mitre Realty a reduzir sua meta de lançamentos para este ano. A incorporadora estima chegar ao fim de 2018 com lançamento de Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 310 milhões, abaixo da inicialmente projetada para o acumulado do ano, de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões. "Mas continuo animado com o mercado", afirma o presidente, Fabrício Mitre.
O executivo ressalta que os consumidores voltaram a comprar imóveis, como consequência principalmente da redução dos juros, mas ainda se mostram cautelosos devido ao nível elevado de desemprego e à piora do cenário nos últimos três meses. "A demanda está um pouco mais fraca do que no início do ano, mas os consumidores estão comprando imóveis", afirma. Segundo Mitre, a incorporadora busca "estar no topo da escolha do consumidor", por meio do desenvolvimento de bons projetos nas proximidades de eixos de transportes públicos e em bairros já desenvolvidos. A empresa atua na Grande São Paulo.
Há duas semanas, a Mitre lançou, na capital paulista, projeto residencial de médio-alto padrão com VGV de R$ 100 milhões, do qual vendeu 90% das unidades. A incorporadora tem 80% do empreendimento, e a XP Investimentos, os demais 20%.
Neste ano, outros dois empreendimentos serão apresentados pela Mitre, um com VGV de R$ 110 milhões e outro de R$ 100 milhões, ambos sem a participação de sócios. Todos os projetos e programados para 2018 estão na cidade de São Paulo, foram protocolados conforme as regras da nova Lei de Zoneamento e combinam apartamentos com perfil de studio até unidades de três dormitórios. "Isso permite atender a vários públicos ao mesmo tempo", diz.
A incorporadora tem dois projetos que seguem as regras antigas, mas apenas um deles estava previsto para este ano e foi postergado devido à liminar que suspendeu temporariamente o direito de protocolo.
Do banco de terrenos de R$ 1,5 bilhão da Mitre, R$ 600 milhões estão em execução e R$ 900 milhões serão apresentados nos próximos 24 meses. A estimativa para 2019 é que os lançamentos fiquem entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões, dependendo da obtenção de aprovações.
Na avaliação do executivo, as regras para retenção de recursos em caso de distratos aprovadas pela Câmara dos Deputados foram "um passo na direção certa, mas ainda aquém do que deveria ser feito". "Na maioria dos países, o comprador perde 100% da entrada", disse. Pelo texto aprovado, haverá retenção de 25% a 50% do valor pago.
Para a Mitre, os distratos corresponderam a 20% das 736 unidades entregues nos últimos 30 meses. "É menos do que foi registrado pelo setor, mas mais do que gostaríamos", disse o presidente da incorporadora. Segundo ele, foi possível vender a totalidade das unidades que retornaram à carteira, e não há mais estoque pronto. O estoque atual é de imóveis em obras e equivale a 10% das unidades em construção.
Outra empresa do grupo, a Share Student Living, está entregando prédio de moradia estudantil, nas proximidades da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com VGV de R$ 50 milhões. Outro projeto está sendo desenvolvido perto da Universidade de São Paulo (USP) com VGV de R$ 100 milhões. A Share Student Living é uma joint venture entre a Mitre e RedStone Residential.