Notícias

27/04/2016

Moody's estima queda de 10% na receita de incorporadoras

A receita das incorporadoras terá queda de 10% neste ano, e as margens ficarão estáveis, na avaliação da agência de classificação de risco Moody's.

Chiara Quintão

A receita das incorporadoras terá queda de 10% neste ano, e as margens ficarão estáveis, na avaliação da agência de classificação de risco Moody's. O levantamento da agência inclui Brookfield Incorporações, Cyrela, Direcional Engenharia, Even Construtora e Incorporadora, Gafisa, Helbor, MRV Engenharia, Rossi Residencial, PDG Realty, Tecnisa e Viver Imcorporadora.

"No ano passado, houve queda da receita nessa magnitude", diz a analista sênior de crédito da Moody's, Cristiane Spercel. A estimativa de redução, também em 2016, da receita consolidada das incorporadoras de cobertura da agência resulta de volumes menores de lançamentos e vendas e de distratos elevados, segundo a analista. 

Os estoques de unidades prontas continua a aumentar, e as incorporadoras podem ter de fazer impairments (baixas contábeis) de ativos, em decorrência de preços em queda e de crescimento dos distratos, na avaliação da Moody's. De acordo com Cristiane Spercel, os impairments resultam dos descontos e de terrenos contabilizados a valores maiores do que os atuais de mercado.

Já a expectativa de margens estáveis em relação às de 2015 é decorrente de projetos mais rentáveis do que os das safras antigas responderem pela maior parte da composição do indicador, além de ganhos de produtividade, ao mesmo tempo em que os descontos continuam a pressionar as margens para baixo. 

Na avaliação da Moody's, há mais probabilidade de as incorporadoras precisarem reestruturar suas dívidas nos próximos 18 meses. Segundo a analista sênior de crédito, algumas reestruturações pontuais de dívida têm ocorrido, mas o movimento tende a ser mais generalizado, diante de maior dificuldade para as empresas se refinanciarem. 

O cenário de recessão, alta do desemprego e inflação afetam, negativamente, a confiança do consumidor, que vem adiando aquisições com tíquetes elevados, como a de casas e automóveis. Já os bancos estão mais seletivos na concessão de crédito, o que indica que o mercado imobiliário continuará enfraquecido, na avaliação da Moody's. 

A agência cita que, no primeiro trimestre, já houve sinais, na Caixa Econômica Federal, de que a inadimplência na carteira habitacional começará a crescer nos próximos meses. "A sinalização é que a carteira imobiliária não está imune à queda da atividade econômica", afirma a vice-presidente sênior da Moody's, Ceres Lisboa. 

Boa parte das contratações de financiamento foi feita de 2008 a 2012, período em que houve crescimento. A vice-presidente sênior ressalta que os bancos estenderam os empréstimos a tomadores que não tinham histórico de crédito. "Com a desaceleração prolongada da economia, a tendência é de atraso dos pagamentos", afirma Ceres. Parte do aumento do financiamento resultou do programa Minha Casa, Minha Vida.

A Moody's ressalta que os bancos - principalmente a Caixa precisam de novas fontes de captação de recursos. No entendimento da agência de classificação de risco, uma alternativa de captação de baixo custo são as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs), lastreadas em financiamento imobiliário. 

Em relação às incorporadoras que oferecem financiamento direto, a Moody's afirma que a decisão de oferecer a modalidade contribui para o ganho de participação de mercado e para o incremento da lucratividade no curto prazo, mas expõe as companhias à inadimplência potencial. No entendimento da agência, somente empresas com forte estrutura de capital, baixo custo de financiamento e dispinibilidade de caixa robusto, como a Cyrela, estão em posição de manter esse modelo de negócios. 

FONTE: VALOR ECONôMICO