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24/06/2022

Moradores encontram aluguéis caros e falta de imóveis ao voltarem a Nova York pós-Covid

Proprietários aumentam exigências e pedem carta para comprovar que interessado foi bom inquilino

Por Rafael Balago 

Nova York foi uma das cidades mais afetadas pelo início da crise da Covid nos EUA. Nos primeiros meses da pandemia, concentrava a maior taxa de mortes do país. Assim, muita gente decidiu se mudar. 

Entre março de 2020 e fevereiro de 2021, a metrópole perdeu 160 mil famílias ou grupos que moram juntos, indicou a empresa de análises Melissa, que se debruçou sobre o total de chegadas e partidas com base em mudanças de endereços registradas pelo serviço postal. Dados do Censo confirmam a tendência: Nova York perdeu 3,8% de sua população, ou 336 mil pessoas, entre abril de 2020 e julho de 2021. 

Há, porém, alguns indicadores de melhora: entre março de 2021 e fevereiro de 2022, a queda foi menor. Somando chegadas e partidas, a cidade ficou com 100 mil famílias a menos. No mesmo período, 43 mil famílias se mudaram para a região de Manhattan, contra 33 mil no ano anterior, o primeiro da pandemia. 

Apesar disso, a retomada é marcada por forte alta dos preços e por escassez de opções. Em maio, os aluguéis de Nova York estavam 29,5% mais caros do que há um ano, segundo o site Apartment List. Os aluguéis subiram quase o dobro da média nacional no período. Hoje, um apartamento de dois quartos custa, em média, US$ 2.124 (R$ 11,1 mil) mensais, enquanto a média nacional é de US$ 1.320 (R$ 6.900). 

Lá fora 

Há diversas razões para esse cenário. Com a Covid, houve uma tendência de reagrupamento familiar, em que muitas pessoas deixaram de viver sozinhas. "Muitos deles eram jovens adultos, especialmente aqueles que moravam com colegas. Eles deixaram seus aluguéis e voltaram a morar com a família enquanto esperavam a pandemia passar", afirma Rob Warnock, pesquisador sênior da Apartment List. 

Mas foi algo temporário. Conforme a crise sanitária passava, muitos voltaram a morar sozinhos. E, ao mesmo tempo, mais pessoas que antes viviam com parentes quiseram ter o próprio lar, o que aumentou a pressão sobre o mercado de aluguéis, em particular nas grandes cidades. Assim, o total de moradias ocupadas nos EUA passou o pico pré-pandemia e atingiu o recorde histórico de 131 milhões em 2021.

Do outro lado desse mercado, o de venda de casas, também houve uma diminuição da oferta, em parte devido à falta de materiais de construção e de trabalhadores. Em 2021, havia menos de 700 mil imóveis disponíveis para compra nos EUA, metade do que no ano anterior. Assim, os imóveis disponíveis também subiram de preço, levando mais pessoas a desistirem ou adiarem a compra e a buscarem aluguéis. 

Assim, quem procura moradia em metrópoles enfrenta dificuldades. "Buscar imóveis apenas pelos sites não funciona. Foi preciso contratar uma corretora, que consegue ter acesso a ofertas antes que elas sejam anunciadas", diz Juliana Carneiro, 33, estudante que se mudará para Nova York em julho. 

Ela conta ter ficado um mês e meio buscando apartamentos. "As opções que surgem são alugadas muito rapidamente. Uma vez, marquei de ver três locais num dia. De manhã, dois já haviam sido alugados." 

A ajuda da corretora foi útil, mas salgada: geralmente cobra-se entre 12% e 15% do valor anual do aluguel. No caso de Carneiro, o percentual representou US$ 6.000 (R$ 31,4 mil), a serem pagos junto com o valor de depósito, que tiveram de ser quitados em até 24 horas depois do fechamento do negócio. 

Com a alta procura, proprietários passaram a exigir mais documentos para aprovar um locatário. Muitos deles pedem que o interessado traga referências do aluguel anterior, para comprovar que se trata de um bom inquilino. Pede-se também uma carta do empregador, detalhando todos os benefícios recebidos. 

China, terra do meio 

Para os próximos meses, o cenário segue incerto, dada a alta inflação nos EUA e o aumento das taxas de juros, que encarecem financiamentos e podem levar mais gente a buscar a opção do aluguel. Também não está claro se as empresas vão manter o trabalho remoto em larga escala ou exigir que mais funcionários vivam perto das sedes, o que impacta a busca por moradia nas metrópoles. 

"Alguns indicadores mostram que a alta de preços está começando a esfriar. Os valores continuam subindo, mas a taxa de crescimento está freando. Esse esfriamento, porém, provavelmente não reverterá muito a alta de preços atual", afirma Warnock, da Apartment List. "O mercado imobiliário está passando por uma mudança significativa, e as implicações virão ao longo de anos, não meses." 

(Matéria publicada em 24/06/2022)

FONTE: FOLHA DE S.PAULO