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03/03/2020

MRV acredita em crescimento dentro e fora do Minha Casa

Incorporadora vê espaço para investir na faixa 1 do programa habitacional

A construtora MRV acredita que vai conseguir crescer neste ano em dois segmentos nos quais tem tido pouca presença. Maior incorporadora do país e controlada pela família Menin, a companhia prepara lançamentos voltados para clientes com renda um pouco superior ao nível mais alto de renda contemplado pelo programa de habitação do governo federal Minha Casa, Minha Vida. E prepara também lançamentos para o outro extremo: clientes que estão na faixa 1 do programa e cuja renda familiar varia entre R$ 2.000 a R$ 2.800.

“Até 2018, a gente basicamente fazia Minha Casa, Minha Vida. Mais de 90% do nosso portfólio era relacionado ao programa”, lembra o copresidente da MRV, Rafael Menin, em entrevista ao Valor.

Mas com uma significativa queda nos últimos dois anos nos juros do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que saiu de 11,5% para 7,5% (mais o valor da TR), a MRV passou a ver uma abertura na venda de imóveis para os clientes com renda que já não se enquadram no Minha Casa Minha Vida, mas, sim, no SBPE.

“Pela primeira vez na história recente, os juros do SBPE estão iguais ou, em alguns casos, até menores do que os do segmento faixa 3 do Minha Casa, Minha Vida. Clientes que ganham entre R$ 4 mil a R$ 7 mil hoje podem comprar usando o financiamento Minha Casa, Minha Vida ou o financiamento do SBPE”, diz.

“Isso significa uma mudança conjuntural super importante”, acrescenta, porque, segundo o executivo, coloca os juros de mercado como competitivos em relação aos juros do programa de habitação do governo.

Enquanto os juros da faixa 3 do Minha Casa, Minha Vida - que é a última do programa - cobra juros de 8%, mais TR, no SBPE alguns bancos já estão cobrando juros de 7%, mais TR, afirma Menin. Essa dança dos juros dá mais fôlego para que um espectro maior de consumidores invista na casa própria. “Nesse segmento logo acima do Minha Casa, Minha Vida, que é o que a gente chama de linha Premium, a MRV vai experimentar um crescimento grande nos próximos anos”, diz o empresário.

Grande o bastante para, segundo a empresa já havia afirmado, fazer com que as vendas de imóveis financiadas pelo Minha Casa, Minha Vida passem a representar menos de 50% das operações da MRV daqui a três anos.

Não que a empresa planeje reduzir as vendas pelo programa, mas crescer em outros.

Além dos imóveis voltados para consumidores com renda acima do permitido pelo Minha Casa, Minha Vida, a MRV aposta também naqueles que estão na primeira faixa do programa, nos mais populares, com renda familiar entre R$ 2 mil e R$ 2,8 mil.

É um perfil de consumidores para os quais a empresa fez poucos lançamentos nos últimos anos, mas que ainda representam um grande mercado no Brasil.

“O nosso ‘core business’, o nosso produto tradicional, atendia pouco a esse cliente com renda abaixo de R$ 3 mil”, diz o empresário. Um fator que leva a MRV a buscar agora esse segmento são as mudanças recentes nas outras faixas do programa. “O Minha Casa, Minha Vida sofreu algumas alterações nos últimos anos, os juros aumentaram um pouquinho, houve mudanças no fator social”, afirma o empresário. Como resultado, a MRV planeja incrementar, a partir deste ano, o número de lançamentos de imóveis para essa faixa de renda mais baixa.


O copresidente resume assim o movimento da empresa: “A gente está alargando nosso portfólio tanto para uma renda mais alta quanto alargando para uma renda mais baixa.”

Uma terceira e nova aposta da MRV é a de imóveis residenciais construídos unicamente para aluguel. Por meio da Luggo, companhia responsável por esse segmento, a MRV começou com quatro empreendimentos e tem agora dez obras em andamento.

“É uma empresa [a Luggo] que a gente quer dobrar de tamanho todo ano. Estamos vendo que há mercado para isso”, diz Menin.

A MRV divulgou ontem resultados do 4º trimestre. A receita no período caiu 6,6%, para R$ 1,4 bilhão. E o lucro líquido atribuível aos acionistas foi 21% menor, caindo para R$ 151 milhões. O lucro líquido anual também atribuído aos sócios atingiu R$ 690 milhões, estável ante 2018. A receita líquida cresceu 11,7%, somando R$ 6 bilhões.

Menin fala de um aumento perceptível na confiança dos consumidores associado à queda dos juros no país e diz crer num crescimento de 2% (ou algo acima) da economia neste ano. Mas avalia ser plausível prever que meio por cento de crescimento da economia será comprometido pelos efeitos do coronavírus.

FONTE: VALOR ECONôMICO