Por Ana Luiza Tieghi
A incorporadora Cury, que atua na parte superior do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), vê um ano de 2025 ainda com boas condições de acessibilidade financeira ao cliente, indicaram seus executivos em teleconferência com analistas, nesta quarta-feira (13), para discutir os resultados do terceiro trimestre.
Cerca de 30% das vendas da empresa são feitas fora do programa, via SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). Neste mês, a Caixa mudou algumas regras para concessão desse tipo de financiamento, exigindo maior entrada dos clientes.
Ronaldo Cury, diretor de relações institucionais e com investidores da incorporadora, ressaltou, contudo, que as mudanças valem apenas para empreendimentos que não tiveram a construção financiada pela Caixa, e os projetos da Cury são financiados pelo banco.
Sobre os juros do financiamento imobiliário no SBPE, que têm sofrido aumento em outros bancos diante da subida da taxa Selic, Ronaldo afirmou, em reuniões com entidades de classe, que a Caixa tem dito que “não tem vontade de aumentar a taxa de juros no curto prazo”.
Para as vendas realizadas dentro do MCMV, a percepção é favorável para o ano que vem, com o programa ainda atrativo ao consumidor.
A inflação da construção tem aumentado — o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) está acumulado em 5,72% no ano, ante 3,37% no mesmo período de 2023 —, mas a empresa “ainda não está perdendo o sono” com isso, segundo o diretor financeiro João Carlos Mazzuco, como aconteceu em 2020 e 2021.
Ele disse que a incorporadora ainda tem capacidade de absorver os aumentos e que, por lançar apenas em São Paulo e no Rio, consegue compensar na tabela de preços os aumentos de custos, “mantendo as margens mais altas, na medida que for economicamente viável”.
A Cury obteve margem bruta de 38,8% no terceiro trimestre, e Mazzuco afirmou que conseguir manter o indicador na casa de 39% no próximo ano seria “uma grande vitória”.
Distribuição de dividendos
Perguntado sobre distribuição de dividendos, Mazzuco disse que a empresa não deve distribuir, no próximo ano, 100% do lucro obtido, como aconteceu em 2023 e tem acontecido neste ano — a Cury já distribuiu mais de R$ 480 milhões em dividendos em 2024.
“Nossa meta é continuar fazendo dentro de 60% a 70% do lucro”, disse. Se houver excesso de caixa, também há a estratégia de fazer distribuições extraordinárias.
A companhia apresentou, até setembro deste ano, R$ 316 milhões em geração de caixa, alta de 27%, mesmo tendo feito compras para elevar seu banco de terrenos em 65% no valor geral de venda (VGV) potencial, para R$ 19,5 bilhões.
O presidente, Fábio Cury, afirmou que a empresa ainda está confortável em aumentar esse banco um pouco mais, mas se forem terrenos de regiões consideradas “prime” dentro do segmento econômico, para continuar mirando no público com maior renda dentro dessa faixa.
A Cury tem terrenos suficientes para suportar sua operação nos próximos dois ou três anos. Três anos de banco de terrenos são um limite que a empresa pretende atingir, para que as áreas não se tornem “velhas”.
Programa Pode Entrar, de São Paulo
Mesmo com o foco nas faixas superiores do setor econômico, a Cury pretende participar do próximo chamamento para empreendimentos do programa Pode Entrar, da prefeitura de São Paulo. Nele, as empresas podem vender unidades diretamente para a prefeitura, por até R$ 210 mil. O preço médio atual da unidade vendida pela Cury é de R$ 290,8 mil.
Das grandes incorporadoras do segmento econômico listadas em bolsa, a Cury é a única que ainda não integra a iniciativa. Essa participação, no entanto, deve ser pequena, segundo o presidente. “A margem é melhor nos nossos lançamentos, no topo da pirâmide dos econômicos.”
(Matéria publicada em 13/11/2024)