O segmento de multipropriedades deve ultrapassar neste ano em tamanho o mercado de lançamentos residenciais da cidade de São Paulo, maior polo imobiliário do país. Pesquisa da Caio Calfat Real Estate Consulting, consultoria especializada no setor imobiliário e hoteleiro no Brasil, mostra que a mulitipropriedade cresceu em dois anos e tem se consolidado como um dos motores de avanço do setor imobiliário como um todo em um cenário de timidez na retomada da atividade econômica.
O levantamento de 2017 de empreendimentos fracionados indicava um VGV (Valor Geral de Vendas) em lançamento, construção e em operação de R$ 11 bilhões. O estudo de 2018 aponta que o VGV nacional dos imóveis de posse compartilhada deve atingir R$ 15 bilhões.
Para efeito de comparação, conforme dados do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), o mercado de novos imóveis residenciais da capital paulista, em 12 meses até março, registra um VGV de R$ 12,4 bilhões.
O estudo completo será divulgado no evento ADIT Share, entre 18 e 19 de junho, em Porto de Galinhas (PE). O documento revela forte crescimento do número de imóveis fracionados e compartilhados desde o início do ano passado. A quantidade total saltou de 54 em 2017 para 79 até maio de 2018, um crescimento de 46,3%. Além destes, a pesquisa identificou 18 novos projetos em 10 cidades, como Rio de Janeiro, Gramado, Balneário Camboriú e Fortaleza, que ainda não chegaram ao mercado.
Segundo Caio Calfat, diretor da consultoria e vice-presidente de Assuntos Turísticos-Imobiliário do Secovi-SP, o crescimento do segmento deve continuar forte, uma vez que as incorporadoras do mercado imobiliário convencional e as maiores redes hoteleiras passaram a se interessar pelo mercado. “O avanço do modelo chamou a atenção dos grandes grupos desde o ano passado e, com isso, cada vez mais empresas começam a planejar lançamentos dentro desse perfil”, afirma.
Calfat enxerga ainda a multipropriedade como um modelo com grande potencial de ganho de escala, na medida em que se torne mais conhecida. Conforme o consultor, “O formato tem um apelo muito forte; imagine se, em lugar ser dono de apenas um imóvel de férias, você seja proprietário de cinco ou dez e não precise se limitar a apenas um destino?”
O modelo atrai ainda proprietários de primeira viagem, aqueles que sonham com um imóvel para férias, mas não têm capital para comprá-lo. “Como o próprio nome indica, o valor para a aquisição é uma fração do total da propriedade e isso viabiliza a aquisição pelo custo de um carro”, compara.
O estudo da Caio Calfat mostra que o valor médio por fração neste ano está em R$ 48 mil, e a quantidade média de semanas partilhadas pelos usuários por empreendimento se situa em 2,8.
O conceito de propriedade compartilhada é simples: o imóvel, por exemplo, uma casa ou apartamento em um condomínio turístico ou resort, é dividido em frações, que são vendidas para diferentes pessoas. De acordo com a quantidade de compradores, cada proprietário tem direito a um determinado número de semanas para uso do local.
Além de usufruir de um propriedade compartilhada, existe a possibilidade de os proprietários utilizarem o intercâmbio de férias através das duas maiores empresas do gênero, RCI e a Interval. Os grupos internacionais atuam no mundo inteiro e conectam donos de multipropriedades nos principais destinos do planeta.
Calfat também ressalta a aprovação pelo Senado, do Projeto de Lei (PLS 54/2017), que dispõe sobre o regime jurídico da multipropriedade no Brasil. Segundo o consultor, a norma vai conferir segurança jurídica ao sistema. “Com o crescimento do segmento, a regulamentação se tornou essencial para trazer segurança tanto ao empreendedor quanto ao comprador”, afirma Calfat.