SÃO PAULO - O juro no Brasil está em seu maior patamar desde outubro de 2006 e, ainda assim, o Banco Central (BC) deve voltar a elevar a Taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano. A autoridade monetária já sinalizou que, com a dificuldade em fazer a inflação recuar, deve aumentar a dose desse amargo remédio — na última reunião, dois diretores já se posicionaram a favor de uma taxa mais elevada. Nesse cenário, acaba sendo mais favorável ao investidor optar por aplicações atreladas a esse possível novo ciclo de aperto monetário.
Ao olhar os rendimentos dos títulos públicos, que os investidores podem comprar a partir de uma conta em uma corretora que trabalhe com o Tesouro Direto, fica fácil entender a atratividade dos investimentos em renda fixa neste momento. Os títulos chamados de Tesouro Selic acompanham a taxa básica, que tende a subir. Os prefixados, por sua vez, estão pagando acima de 15%. Já o Tesouro IPCA, que paga a inflação acrescida de juros, estão com rendimento bruto em torno de 18%.
— Enquanto tivermos uma taxa de juro elevada, os títulos públicos vão continuar sendo muito atraentes em relação a outros investimentos. É uma insanidade colocar recursos na renda variável com essa Selic — afirma Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos Leandro & Storme.
Wolwacz sugere que o investidor reparta seus recursos entre opções pré e pós-fixadas. Dessa forma, poderá tirar proveito de uma nova alta na Taxa Selic, caso esta venha a se confirmar. E, na hipótese de haver um corte nos juros, parte da carteira estará blindada, graças às aplicações em opções prefixadas.
O ano da renda fixa - A Selic está nesse patamar desde o fim de julho, e a expectativa era de manutenção para posterior recuo, provavelmente durante o segundo semestre de 2016. No entanto, a inflação não arrefeceu. Pelo contrário, as projeções para o ano que vem já apontam um IPCA acima de 6,5%, que é o teto da meta — o centro é de 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância, para cima ou para baixo. A última projeção do boletim Focus, do BC, era de inflação a 6,70% em 2016.
Além dos títulos públicos, os investidores encontram boas opções de renda fixa nos títulos privados. Mas, devido ao risco maior, o ideal é procurar opções que paguem mais do que um título público. No caso dos papéis privados, em geral os rendimentos são atrelados ao CDI, remuneração interbancária que segue bem de perto a Selic. Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Letras de Crédito Imobiliário e Agrícola (LCIs e LCAs) têm cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), com limite de até R$ 250 mil.
Para Carlos Massaru Takahashi, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a expectativa em relação aos juros faz com que os investimentos, em especial em fundos, fiquem concentrados na renda fixa.
— Devemos ter uma concentração na renda fixa, considerando que o ano que vem deve ser parecido com 2015, então essas carteiras devem crescer — diz Takahashi.
Dados da Anbima mostram que os fundos de renda fixa da categoria Simples, que reúne as carteiras que aplicam basicamente em títulos públicos, acumulam nos 12 meses encerrados em novembro um rendimento bruto de 13,66% e, em 36 meses, de 36,87%. Vale lembrar que tanto títulos públicos como fundos e CDBs estão sujeitos à tributação do Imposto de Renda sobre os ganhos. As alíquotas variam de 15% (investimento acima de dois anos) a 22,5% (até seis meses).
Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Capital Asset, acredita que já na primeira reunião do ano, nos dias 19 e 20 de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar os juros. Isso porque precisa passar aos agentes do mercado financeiro a sinalização de que está empenhado em controlar a inflação.
— Essa alta dos juros precisa acontecer logo no primeiro trimestre para reduzir a expectativa de inflação de 2016 e também a de 2017. A elevação do juro não surte efeito a curto prazo — explica ele.
O economista aconselha investir em Tesouro Selic ou em outras alternativas que flutuem junto acompanhando as variações da taxa básica, e, à medida que se consolidar um cenário de estabilização dos juros, ir para os papéis prefixados.
Mais pressão inflacionária - Outro fator que sugere que 2016 será novamente o ano da renda fixa é a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) se reúne amanhã e quarta-feira, e espera-se que anuncie a elevação da taxa, há sete anos no intervalo entre zero e 0,25%. A depender do ritmo de alta, a migração de recursos de investidores globais para o mercado americano será maior, pressionando a taxa de câmbio em países emergentes como o Brasil.
— Um movimento de alta de juros nos Estados Unidos pode ter um impacto no mercado internacional de ativos, incluindo as moedas. Isso pode trazer ainda mais pressão inflacionária para o Brasil — afirma Luciano Rostagno, estrategista do Mizuho Bank.
Com mais pressão inflacionária, o BC pode ter de fazer uma elevação mais forte dos juros. O Mizuho espera duas altas da Selic em 0,5 ponto percentual e mais uma de 0,25 ponto. Dessa forma, em 2016 o juro poderia chegar a 16% ao ano, o que seria o maior patamar em dez anos.