A indústria de cimento, que começou 2020 tendo como cenário de referência o crescimento de 3,6%, neste ano, terá, na melhor das hipóteses, desempenho semelhante ao de 2019. É o que avalia o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), Paulo Camillo Penna.
“Os números atuais não me autorizam a pensar em nenhum dado positivo para o ano”, disse Penna ao Valor.
O executivo compara que, na greve dos caminhoneiros, em 2018, o setor deixou de vender 900 mil toneladas de cimento, o correspondente a 1,7% das vendas do período de junho de 2017 a maio de 2018. No primeiro trimestre, o setor vendeu 12,67 milhões de toneladas, ou seja, 717 mil toneladas a menos do que a projeção para o período, o correspondente a 1,3% da projeção anual. “Perdi 1,3% em algo [a pandemia do coronavírus] que apenas começou”, diz o presidente do Snic.
Segundo Penna, a partir de abril, será possível ter visão mais clara da situação. Em janeiro, quando a pandemia do coronavírus ainda não era considerada nas projeções, a entidade estimava que, em um ambiente otimista, a expansão das vendas de cimento chegaria a 5,1% e, em um cenário pessimista, se limitaria a 2,2%.
Retrações consecutivas
No ano passado, o consumo de cimento interrompeu quatro retrações consecutivas e cresceu 3,5%, para 54,5 milhões de toneladas. Entre 2015 e 2018, houve queda acumulada de 27% das vendas do insumo.
O presidente do Snic defende manutenção de atividade mínima do setor. “Mas não defendo nenhum tipo de medida irresponsável”, ressalta Penna. O representante setorial contou também que as indústrias de cimento não estão realizando demissões. “O setor está antecipando manutenções programadas e utilizando recursos como bancos de horas, ‘home office’ e férias coletivas”, diz Penna.
As vendas internas de cimento somaram 4,05 milhões de toneladas, estáveis, em março, na comparação anual, e com queda de 0,5% ante fevereiro, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo Snic.
Por dia útil, houve queda de 10,4% na comercialização, em março, em relação ao mesmo mês de 2019, e de 15% na comparação com fevereiro.
Apenas na região Sudeste, houve expansão de vendas, no mês passado, puxada pela demanda para edificações comerciais.
No acumulado do trimestre, as vendas domésticas de cimento tiveram queda de 0,3%, para 12,6 milhões de toneladas.
Em janeiro, o consumo caiu 0,9% e, em fevereiro, diminuiu 0,5%, devido ao excesso de chuvas. “Mas nossa avaliação era que tinha havido represamento das vendas e que, em março, haveria crescimento efetivo”, diz Penna.
Nas duas primeiras semanas do mês, o desempenho superou as expectativas, segundo Penna. Com a disseminação do coronavírus e o anúncio de medidas restritivas por governos estaduais ao comércio varejista e, em alguns casos, à continuidade de obras não públicas, houve forte retração.