O ano passado foi um divisor de águas para a Votorantim Cimentos, principal empresa do grupo Votorantim, em receita - 40% do consolidado. A companhia encerrou uma fase de ajustes no portfólio de ativos, com a venda nos últimos quatro anos de operações não estratégicas, ao mesmo tempo que concluiu um pacote de investimentos no Brasil, Argentina, Estados Unidos e Turquia. Mas os resultados da VC ainda estavam longe do desejável e a alavancagem financeira da companhia mantinha-se elevada.
Inaugurando um novo ciclo, foi anunciada a troca de comando da empresa no início de dezembro e, em janeiro, a VC foi capitalizada em R$ 2 bilhões pelo acionista controlador para fortalecer sua estrutura de capital. Assim, quitou e antecipou pagamentos de compromissos no total de R$ 3,5 bilhões. A alavancagem caiu a patamar confortável, 2,8 vezes a relação entre dívida líquida e o resultado operacional (Ebitda). A dívida bruta da empresa está em R$ 10 bilhões.
Marcelo Castelli, no grupo desde 1997 e nos últimos cinco anos como presidente da Fibria, produtora de celulose vendida para a Suzano, assumiu a gestão da VC em 1º de fevereiro. "Estamos de volta ao jogo", disse o executivo, que nos dois primeiros meses fez uma maratona de viagens às operações no Brasil, América do Norte e Europa.
O executivo vê na cimenteira um negócio dinâmico, com muita força de atuação na ponta do mercado e grande participação do varejo - 70% da venda de cimento no país é nesse canal. Ele destaca o portfólio diversificado da VC. "Temos de cimento com diferentes usos a concreto, argamassa, areia e brita até calcário agrícola. Todos com marcas fortes". A empresa tem 35% do mercado do país.
Com uma estrutura de capital ajustada, após a capitalização, busca por recuperação de margens e melhoria dos resultados em 2018, principalmente no Brasil, uma política de alavancagem de até três vezes o Ebitda, a companhia obteve de volta o selo de Investment Grade da S&P, destaca Osvaldo Ayres Filho, vice-presidente financeiro e de RI da empresa, no grupo desde 2000. A VC já tinha o selo da Fitch. "É fundamental manter esse nível de alavancagem", afirmou Ayres.
A otimização do portfólio já mostra ganhos de competitividade, destaca Castelli. "Vamos buscar o equilíbrio entre os mercados maduros [EUA e Europa] e os desenvolvidos. O primeiro é mais estável e tem portfólio focado em clusters". É o caso da região americana dos Grandes Lagos.
Na estratégia de ganho de competitividade, com aumento da eficiência operacional e redução de custos, a empresa alocou, do investimento de R$ 1,3 bilhão deste ano, R$ 330 milhões para modernização de sua fábricas. O orçamento é 130% superior. Em cinco anos serão mais de R$ 1 bilhão somente nesse item.
A disciplina financeira da VC será inegociável, independentemente do cenário econômico que enfrentar, afirma Castelli. Agora, com a Vc financeiramente sólida, diz que a capacidade de investimento nos seus negócios volta. "Vamos jogar do meio de campo para a frente. A VC vai poder avaliar oportunidades que possam aparecer, aqui e no exterior", diz.
Em outubro, foi criada a Votorantim Cimentos Internacional (VCI). Baseada em Luxemburgo, a holding vai reunir todos os ativos fora do Brasil. O objetivo é ter gestão de capital e de portfólio mais eficiente, assim como facilitar a expansão internacional da VC. Criar a VCI custou cerca de R$ 500 milhões, o que impactou o resultado da última linha da VC - registrou lucro de 10 R$ milhões em 2018.
A meta da VC, afirma, é ter mais de 50% da receita em moeda forte. Para isso, deverá melhorar a presença em mercados estratégicos.