Sérgio Tauhata
Imagine o alívio dos passageiros se um avião em risco de acidentar-se pudesse simplesmente acionar um para-quedas e pousar com tranquilidade. Para a maioria conservadora de investidores brasileiros, desde o ano passado, a ideia de alocar grande parte de seus recursos em aplicações atreladas ao certificado de depósito interfinanceiro, o popular CDI, guarda certa semelhança com o uso do equipamento de proteção, em meio ao caos dos mercados.
O CDI, como indexador, envolve os produtos financeiros com o manto da pós-fixação, ou seja, embute nos papéis de renda fixa a qualidade de se manter alheios à volatilidade definida pelas oscilações fortes ou frequentes de preços de ativos. Por isso, especialistas e consultores têm recomendado neste início de ano turbulento que a fatia principal das carteiras mantenha-se pós-fixada. Ainda mais em um momento em que o mercado espera, já nesta semana, o reinício do ciclo de elevação da taxa básica de juros Selic pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
Mas será que toda aplicação conservadora é igual? "Dentro do mundo conservador também tem de se pensar em diversificação", afirma Augusto Miranda, chefe de gestão de patrimônio do HSBC. Simulação feita pela equipe do banco para o Valor, com uma comparação entre as rentabilidades das aplicações atreladas ao CDI ou à Selic mais conhecidas indica uma vantagem nítida em termos de retorno para os produtos isentos de cobrança de imposto de renda, como as letras de crédito imobiliário (LCI) e as letras de crédito do agronegócio (LCA).
Mesmo com um percentual nominal menor do referencial conservador, em termos de retorno, o benefício tributário proporciona a uma LCI que pague 83% do CDI, após um ano, um ganho entre 1,3 e 1,6 ponto percentual maior comparado a outros produtos atrelados ao indexador, depois do abatimento do IR.
Um CDB com retorno de 93% do CDI deverá gerar, conforme os cálculos do HSBC, uma taxa de 13,70% no fim de 2016, enquanto uma LFT, que oferece rentabilidade bruta de 100% da Selic, vai pagar no ano 14,05%, quando descontadas as taxas de custódia e negociação cobradas sobre as operações no Tesouro Direto, plataforma on-line de compra e venda de títulos públicos para pessoas físicas. Já um fundo DI com taxa de administração de 1% ao ano teria um retorno semelhante ao do CDB, em torno de 93% do CDI.
No universo das aplicações conservadoras, a poupança é sempre uma referência. Embora a maior parte do retorno da caderneta seja prefixado, ou seja, já definido em 0,5% ao mês, o componente pós-fixado da aplicação, a taxa referencial (TR), proporcionou um acréscimo considerável no ano passado. Foram dois pontos percentuais a mais, rentabilidade extra que, projeta o HSBC, deve repetir-se em 2016.
Na comparação direta com outras aplicações conservadoras, a poupança perde de goleada. Contra a LCI da simulação do HSBC, a caderneta deve ficar, nada menos, que sete pontos percentuais atrás. E, em relação ao CDB, ao fundo DI e à LFT, cinco pontos percentuais em desvantagem no fim do ano na comparação dos retornos brutos e mais de três pontos em termos de ganhos líquidos de IR.