Vanessa Adachi e Fabiana Lopes
A recente indicação do economista mexicano Guillermo Ortiz para presidir o conselho do BTG Pactual no México evidencia uma estratégia que o banco adota para suas crescentes operações no exterior. O banco não desloca brasileiros para comandar suas unidades no exterior. A opção é por recrutar um profissional do país em questão, preferencialmente alguém com bom trânsito institucional. Com essa premissa, montou um time global bastante diversificado e de peso.
Ortiz, a quem o banqueiro André Esteves ofereceu sociedade no BTG como um dos grandes atrativos, é influente figura do cenário econômico e financeiro mexicano. Foi ministro da Fazenda e presidente do banco central mexicano, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e integra, até o fim deste ano, o conselho de administração do Banorte, um dos maiores bancos do México.
"Sempre buscamos a melhor pessoa para aquela posição. Ter representatividade institucional também é muito importante", diz Roberto Sallouti, sócio e COO do BTG Pactual.
"A contratação de Ortiz indica que o banco pode ter uma expansão mais forte no México", diz um analista, lembrando que o economista liderou três aquisições em cinco anos à frente do conselho do Banorte.
"Estive no setor público por 35 anos e, para falar a verdade, nunca pensei que me mudaria para um banco de investimentos", diz Ortiz. "A razão principal [para ter aceito o convite] é que é muito notório que a América Latina conseguiu produzir um banco de investimento de primeira linha, que é globalmente competitivo, num prazo muito curto", completa.
A missão de Ortiz é replicar no México a estrutura que o banco possui no Brasil e atingir um porte compatível com o tamanho da economia mexicana. "O BTG iniciou operações há três anos no país e vamos crescer substancialmente de 2016 em diante", afirma ele. Para o ano que vem, o orçamento do banco prevê dobrar a equipe no país, de 40 pessoas para quase 80 pessoas.
"Vamos iniciar novos negócios e há enormes oportunidades no setor de energia, não só de petróleo, mas também de eletricidade", resume o executivo. Ele diz que a estratégia do BTG contempla prioritariamente crescimento orgânico. "Se uma aquisição estratégica aparecer no caminho, certamente vamos considera-la. Mas não vejo muitas oportunidades."
A cada um dos executivos internacionais, o banco entrega um "mandato bem definido e fácil de medir", diz Sallouti. "A tarefa dada ao Guillermo Ortiz é colocar o BTG no topo dos rankings de emissões de dívida, ações, gestão de recursos e fusões e aquisições."
Um dos primeiros nomes a integrar a seleção internacional do BTG foi Huw Jenkins. Ex¬chefe global da divisão de banco de investimento do suíço UBS, Jenkins foi responsável por negociar a compra do Pactual em 2006. Como chefe da divisão, foi também o responsável em última instância pelas operações com ativos tóxicos que causaram grandes estragos ao UBS em 2007 e um dos primeiros dos grandes executivos do banco a serem demitidos naquele momento.
Jenkins só reapareceu na cena financeira em 2010, já como sócio do BTG no escritório em Londres. Estava encarregado de usar toda a rede de contatos e conhecimento adquiridos durante a carreira de banqueiro no UBS para ajudar a colocar de pé a injeção de capital de US$ 1,8 bilhão que o banco brasileiro recebeu de uma lista de fundos soberanos e ricas famílias europeias e latino-americanas.
Esse time internacional é cada vez mais relevante na medida em que o BTG altera seu modelo de negócios. Depois de anos apostando no risco Brasil e montando uma carteira de empresas que traria grandes resultados num cenário de economia brasileira em franca expansão, hoje o BTG executou uma guinada rumo ao exterior. "75% do lucro do banco é reinvestido no negócio [o BTG distribui 25% do resultado aos acionistas] e somos levados a buscar essa expansão lá fora por falta de oportunidades aqui dentro", afirma Sallouti.
No ano que vem, diz ele, 65% das receitas do BTG devem vir de fora do Brasil. A transformação do perfil do banco não é apenas geográfica. É também de modelo de negócios. Em 2016, 45% da receita deverá ser originada na divisão de gestão de recursos e de grandes fortunas, bem mais previsível do que a tesouraria e a atividade de banco de investimento, que sempre caracterizaram o banco.
A expansão internacional tem quatro frentes. A primeira é o jogo na América Latina. "Aqui a estratégia é replicar a estrutura brasileira nos demais mercados", diz Sallouti. "No Chile e na Colômbia, fizemos aquisições, no Peru já tínhamos presença e, agora, o México é o novo passo." Mas o executivo admite que o crescimento nesses mercados tornou-se menos promissor do que nos anos recentes.
A área internacional de gestão de recursos, com uma família de fundos de hedge, é outra frente e segue crescendo. O negócio de commodities é o terceiro pilar, que traz uma importante diversificação geográfica ao banco.
A frente mais recente e a mais promissora é a de gestão de grandes fortunas, que ganhou escala com a aquisição do banco suíço BSI, concluída em setembro.
Com tudo isso, dois terços dos 5.500 funcionários do banco estão hoje fora do Brasil, sob o comando direto, na maioria das vezes, dos executivos e sócios estrangeiros. "É uma transformação do BTG em cinco anos", afirma Sallouti.