Por Ana Luiza Tieghi
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou na segunda-feira (23) os dados do setor para o trimestre que apontam estabilidade com relação ao início de 2021. As vendas tiveram alta de 1,4%, enquanto os lançamentos caíram 2,6%. Esse número, no entanto, esconde a situação mais complicada dos imóveis do Casa Verde e Amarela (CVA), que tiveram redução de 25,6% nos lançamentos ante o mesmo período do ano passado, somando 22,3 mil unidades.
Entidades, analistas e as próprias incorporadoras que atuam no programa habitacional vêm repetindo a necessidade de uma nova atualização na curva de subsídios do CVA, para ajudar a permitir um aumento de preço das unidades, sem que o cliente, com a renda pressionada pela inflação, perca poder de compra. Sem isso, afirmam, fica pouco atrativo ou mesmo viável produzir habitações para esse público.
Essa mudança vai chegar, afirmou o novo ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), Daniel Ferreira, em entrevista ao Valor. Haverá acréscimo de 12,5% a 21,4% no valor do subsídio, a depender da localização do empreendimento, da renda familiar e de outros critérios. O teto do valor concedido continua em R$ 47,5 mil. A medida começa a valer em junho e dura até o final do ano. A pasta quer fechar 2022 com 400 mil contratos no programa -- até o momento, foram 91 mil.
Agora, resta ver se a atualização nos subsídios será suficiente para reaquecer o segmento econômico, que representa 42% dos lançamentos no país, mas já foi 57% no início de 2020.
Até o momento, a elevação dos lançamentos e vendas das unidades que não se encaixam no programa deram conta de equalizar a queda do CVA, mas a alta taxa de juros prejudica novas vendas.
Além de incorporadoras, empresas que prestam serviço à construção civil também esperam uma retomada do programa habitacional. A Versátil, companhia que aluga andaimes e escoramentos para edifícios no Paraná e em Santa Catarina, está com 85% de ocupação dos materiais, nível acima da média histórica de 60%. A empresa projeta manter o ritmo pelo menos até meados de 2023, quando os empreendimentos lançados nos últimos anos ficarem prontos. Depois disso, aguarda que mudanças no CVA mantenham a demanda por obras aquecida.
Desde 2020, a companhia já aumentou em 50% o valor que cobra pela locação dos seus produtos, por causa do aumento do aço. Essa elevação é outro entrave para as incorporadoras, que têm apresentado queda na margem de lucro diante do aumento dos custos para construir.
No consolidado dos balanços do primeiro trimestre reportados pelas incorporadoras de capital aberto, houve queda de 3,2% na margem bruta e de 14,3% no lucro líquido, na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relatório divulgado nesta quarta-feira (25), a XP citou o mercado imobiliário como um dos setores com empresas que entregaram números menores do que o esperado para os primeiros três meses do ano.
A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) se defende dos aumentos e culpa o preço das matérias-primas e do frete, além dos impostos, que também atingem os produtores. O índice Abramat reportou até abril queda de 9,3% no faturamento do setor, em relação aos quatro primeiros meses do ano passado. Nos últimos 12 meses, a redução é de 2,3%.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (Anfacer) também divulgou desempenho negativo dos associados no trimestre, com queda de 2,6% na produção e de 11,4% na comercialização dos revestimentos.
Se as vendas estão caindo, ao menos o ritmo dos novos aumentos de preço também deve diminuir. Celso Petrucci, vice-presidente da CBIC, afirmou que o movimento de alta dos custos deve perder força ao longo do ano. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) acumula alta de 11,54% nos últimos 12 meses, já menor do que a inflação oficial do país, de 12,13%.
Na área de escritórios, dois negócios feitos na última semana apontam para uma perspectiva de recuperação da ocupação e do valor de aluguel, ao menos entre as lajes corporativas de alto padrão, dizem analistas do setor. A BR Properties vendeu mais da metade do seu portfólio para a Brookfield por R$ 5,9 bilhões, o que incluiu 12 torres comerciais e dois terrenos para galpões industriais.
No dia seguinte, a GTIS Partners comercializou por R$ 850 milhões a sua fatia de 62% da Infinity Tower, prédio de padrão AAA (“triple A”) próximo à avenida Faria Lima. O comprador foi um grupo formado pelas empresas Lucio, AMY e Omar Maksoud Engenharia, que já possuía o restante do edifício.
Matéria publicada em 26/05/2022